sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Um pouco de Pushkin: A Perfídia




A Perfídia

Se teu amigo, ao ouvir-te as razões,
Retira-se em silêncio causticante;
Se a mão afasta da que lhe propões,
Como de cobra, a estremecer no instante;
Se ele, cravando em ti o agudo olhar,
Move a cabeça desdenhosamente,
Não digas: "Está louco de pesar:
É, de fato, um garoto, está doente";
Não digas: "Ele é todo ingratidão;
Irado e fraco não merece estima;
A vida, sonho mau, faz-lhe aflição..."
Estarás certo? É a calma que te anima?
Se é assim, dispõe-se ele a morrer
Afim de reconciliar-se cm o amigo.
Porém se da amizade o almo poder
Usavas para afronta iníqua, digo,
Porém se espicaçavas com ardis
Sua imaginação desconfiada,
E eram teus recreios senhoris
Ver-lhe, triste e a gemer, a alma ultrajada;
Porém se foste da calúnia vil
Para o enodoar eco despercebido,
Se grilhões lhe lançaste, e a quem hostil
Lhe era, a rir, o entregaste adormecido,
E ele leu de tua alma na mudez
O oculto, com o olhar cheio de ânsia,
Basta! de frases fúteis não é vez:
Estás julgado em derradeira instância.

(1824)

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