Faço, antes de mais nada, uma ressalva: estou traduzindo o nome do autor para Zamiatin e não Zamiatine, como acontece na edição de Portugal. Normalmente, os portugueses traduzem nomes terminados em n com um e no final (tipo, por exemplo, Lenine e não Lenin). Isto posto, vamos ao romance de Zamiatin e conhecer um pouco este autor.
Antigo membro do partido Bolchevique e fiel autor aos ideais da revlução russa, respeitado por sua independência e integridade. Como diz Solomon Volkov, em seu 'S.Petersburgo, uma viagem cultural',
"Zamiatin era "rabugento contido, jamais teve um gesto sequer semelhante a servilismo(...) Dizia-se que ele polia seu texto como se fosse marfin, esmerando-se em cada palavra".
Em 1921, o jornal de Petrogrado(S.Petersburgo) "Dom Iskusstv" (Casa das Artes) imprimiu um artigo deste autor, intitulado "Tenho Medo", que causou grande celeuma por denunciar abertamente o regime soviético por estar sufocando a literatura russa ao encorajar o servilismo e forçando escritores honestos ao silêncio:
"A verdadeira literatura não pode fluir da pena de obedientes e rotineiros burocratas, mas terá que ser produzida por loucos, eremitas, heréticos, sonhadores, rebeldes e céticos".
Imaginem só o 'rebu' que ele não causou com tais palavras! E, dentro do 'espírito' deste seu protesto, escreveu sua obra mais famosa, Nós, concluída em Petrogrado no mesmo ano de 1921.
Trata-se de uma precursora de "Admirável Mundo Novo" (1930), de A.Huxley e, principalmente, de "1984", de Orwell (1948). O leitor do blog já pode imaginar que esta obra foi proibida na URSS, tendo que ser publicada a partir dos EUA, em 1924. A primeira edição em russo também saiu nos EUA, em 1952. A crítica soviética caiu em cima dele, sendo-lhe completamente hostil. Por causa desta hostilidade, Zamiatin escreve, em 1929, uma carta às autoridades:
Foi preso em 1922 e confinado em solitária, na mesma ala onde estivera preso antes da revolução por sua filiação aos bolcheviques...Foi posto em liberdade, mas só saiu do país anos depois, em 1931. Morreu em Paris em 1937.
Por todo este problema com a censura soviética, permaneceu quase desconhecido para os leitores da URSS até os anos 80, quando "Nós" foi publicado na Rússia. onde passou a ser considerado, com toda a justiça, um dos grandes mestres da literatura.
Trata-se de uma precursora de "Admirável Mundo Novo" (1930), de A.Huxley e, principalmente, de "1984", de Orwell (1948). O leitor do blog já pode imaginar que esta obra foi proibida na URSS, tendo que ser publicada a partir dos EUA, em 1924. A primeira edição em russo também saiu nos EUA, em 1952. A crítica soviética caiu em cima dele, sendo-lhe completamente hostil. Por causa desta hostilidade, Zamiatin escreve, em 1929, uma carta às autoridades:
"Desde 1921 tenho sido o alvo principal da crítica soviética. Meu livro converteu-se num repositório de impropérios, a começar de inimigo de classe, kulak, burguês, duas vezes reacionário, até bisonho e espião".
Por todo este problema com a censura soviética, permaneceu quase desconhecido para os leitores da URSS até os anos 80, quando "Nós" foi publicado na Rússia. onde passou a ser considerado, com toda a justiça, um dos grandes mestres da literatura.
Em sendo uma precursora de 1984 e Admirável Mundo Novo, nem preciso dizer que se trata de uma fantástica distopia, baseada no controle do pensamento de na repressão a toda e qualquer dissidência para garantir a supremacia do totalitarismo, na obra representado pelo "Estado Único". A igualdade entre as pessoas é levada ao extremo, uniformizando-as a tal ponto de se eliminar a individualidade, abolindo-se o indivíduo. O que permite este feito é a matematização do real. As tábuas dos mandamentos horários sincronizam atividades produtivas, as relações sexuais na transparência absoluta das casas, todas de vidro. O que seria "o Grande Irmão" de Orwell, para Zamiatin era "O Benfeitor". A criação literária também foi reformada, abolindo-se a barbárie dos tempos em que cada um escrevia tudo o que lhe passava pela cabeça, passando a ser posta a serviço do Benfeitor, que diz:
D-503? O que é isso?, há de perguntar algum leitor. É que no Estado matematicamente perfeito as pessoas já não possuem nomes, possuem números...Você não computa os habitantes locais pela quantidade de pessoas, mas de números. E D-503 não é um número qualquer. Ele é um engenheiro, responsável pela construção do "Integra", nave que levará o Estado Único a colonizar seres de outros planetas ainda sujeitos à "selvagem condição de liberdade". O romance é ambientado no terceiro milênio.
"Os nossos poetas já não vivem no empíreo. A lira deles é a fricção matutina da escova de dentes elétrica".Aqueles a quem os sonhos afligem, como acontece com o narrador da história, D-503, serão submetidos à uma fantasioctomia, que há de lhes devolver a felicidade vítrea da primeira pessoa do plural. Extirpam-se, assim, as doenças da alma para aumentar a plenitude artificial e automática do simulacro.
D-503? O que é isso?, há de perguntar algum leitor. É que no Estado matematicamente perfeito as pessoas já não possuem nomes, possuem números...Você não computa os habitantes locais pela quantidade de pessoas, mas de números. E D-503 não é um número qualquer. Ele é um engenheiro, responsável pela construção do "Integra", nave que levará o Estado Único a colonizar seres de outros planetas ainda sujeitos à "selvagem condição de liberdade". O romance é ambientado no terceiro milênio.
Seu estilo é pleno de originalidade, assim como super original é a linguagem matemática adotada por Zamiatin.
Seu tema central se desenvolve em torno do debate entre felicidade-liberdade, mas note: nada tem a ver com o stalinismo, que ainda não existia quando o livro foi escrito.
Posso encerrar este post afirmando que se o totalitarismo que por alguns anos dirigiu a Rússia surge como o fato mais importante do século XX, o livro de Zamiatin é a mais importante obra sobre estes tempos, mesmo que tenha sido escrita antes que o autor o vivesse.
Meu conselho: comprem depressa o livro, antes que vire artigo de sebos! Você, certamente, não irá se arrepender, já que é bem melhor e mais original do que as distopias nele baseadas.
Seu tema central se desenvolve em torno do debate entre felicidade-liberdade, mas note: nada tem a ver com o stalinismo, que ainda não existia quando o livro foi escrito.
Posso encerrar este post afirmando que se o totalitarismo que por alguns anos dirigiu a Rússia surge como o fato mais importante do século XX, o livro de Zamiatin é a mais importante obra sobre estes tempos, mesmo que tenha sido escrita antes que o autor o vivesse.
Meu conselho: comprem depressa o livro, antes que vire artigo de sebos! Você, certamente, não irá se arrepender, já que é bem melhor e mais original do que as distopias nele baseadas.
Evguenyi Zamiatin nasceu em Lebedian, distrito de Tambov, no dia 01 de fevereiro de 1884. Foi amigo de Gorki e de Nbakov.
2 comentários:
Bem, eu gostei muito de 1984 e gostei de Admirável Mundo Novo, se esse é melhor, já me interessa.
Também gostei de todos os Russos que li: Tolstoi, Gogol, Tchekov, etc.
Obrigada pela dica.
Em 2004 ele foi lançado com tradução direto do russo:
http://www.alfaomega.com.br/modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=221
Abs.
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