sexta-feira, 26 de agosto de 2011

LIVRO DO DIA: O MESTRE E A MARGARIDA(MIKHAIL BULGÁKOV)

Livro excelente de autoria do notável Mikhail Bulgákov, tão notável como seus conterrâneos clássicos do império russo e da URSS . Digo isto porque Bulgákov não era russo, mas sua obra é considerada russa por ter sido escrita neste idioma. Além disto, sendo natural de Kiev, capital da Ucrânia, viveu sob o mesmo império russo que tantos gênios deu para a literatura universal e sob a mesma URSS, que produziu mais uma série de incríveis escritores e que forneceu material psicológico para a elaboração de "O Mestre e a Margarida", obra que levou Bulgákov a um medo imenso das conseqüências de sua publicação durante a era Stalin, fazendo com que a escrevesse em segredo. O pavor era tanto que ele chegou a queimar uma primeira versão. Este clima de pavor é levado para a nova versão desta obra revolucionária, vindo, talvez, daí, sua extraordinária força. Ao todo, levou cerca de dez anos para terminar este livro. Sua mulher fez a revisão. Apenas seu círculo mais íntimo de amizades sabia da existência deste romance, oúltimo e mais definitivotrabalho do autor, escrito entre os anos de 1928 e 1940, quando morreu. Era o auge do Stalinismo, auge do grande terror (de 1936 a 1940).

Trata-se de uma obra autobiográfica e nela figuram sua terceira mulher, Elena Bulgákova,que serviu de modelo para Margarida. O mestre é um alterego do autor: trata-se de um escritor impiedosamente maltratado pela censura. E assim como seu alterego, Bulgákov também foi impiedosamente maltratado por uma censura que massacrava tudo que não se enquadrasse no realismo socialista. E este livro não de enquadrava, definitivamente. O mestre, que estava a escrever um livro sobre Pôncio Pilatos, também queima boa parte de seus manuscritos.

Por meio do livro do 'Mestre", Bulgákov sugere um paralelo entre a Jerusalém que cruxificava cristãos, com a Moscou dos expurgos, que em 1929 é visitada pelo diabo, que usa o nome de Woland, historiador, especialista em magia negra.

Satanás não vem sozinho, mas em comitiva, da qual participam uma feiticeira nua, um homem de roupas apertadas e monóculo rachado e um gato espantosamente desproporcional, que anda s obre duas patas e adora vodka, entre outros "assessores".

Numa tarde de primavera, Satanás e sua comitiva decidem visitar a cidade e encontram poetas, editores, burocratas, gente de toda espécie tentando levar a vida no comunismo. Mas depois de tal diabólica visita, nada será mais como antes: um rastro de destruição e loucura mudará o destino de todos que o cruzarem.
"O que aconteceu em Moscou, depois daquela noite de sábado, quando Woland e o seu séquito deixaram a capital ao por-do-sol, desaparecendo dos Montes Vorobiov?
Nem é preciso dizer que durante muito tempo toda a capital permaneceu cheia do zumbido pesado dos boatos mais inverossímeis, que logo se alastraram também para os locais mais remotos e obscuros do interior. Seria repugnante repetir esses boatos".(trecho extraído do livro)
As aventuras do diabo e seu grupo estão narradas na primeira parte do romance. A segunda parte é dedicada aos personagens título, ou seja, o mestre e a margarida. Margarida é a amante do mestre, o escritor, que lhe dá a maior força para publicar um romance que desagrada ao regime, por mostrar figuras religiosas como figuras históricas. Há, então, o entrelace do diabo com as personagens principais: Margarida a ele se alia. Nesta parte,epassagens inesquecíveis e da maior criatividade; entre elas, uma em que Margarida sobrevoa Moscou mais ou menos como "Baba Yaga"(ver a respeito neste blog).

O livro tem aspectos cômicos, tem muito de fantástico, mas vai muito além disto:através do romance do Mestre, Bulgákov faz uma reflexão sobre o bem e o mal e sobre a bondade; tudo através dos personagens do Mestre, ou seja: Jesus e o diabo, que teve como protótipo do Mefístoles, de Fausto:
"-...mas, quem é você, afinal? - Sou a parte da força que quer sempre o mal, mas sempre faz o bem"
Não vou escrever aqui, os dados biográficos do autor, já que se encontram disponíveis por toda a rede. Ao invés disto, julgo preferível deixar registrada duas das muitas cartas que Bulgákov dirigiu a Stalin, por julgá-la de maior interesse.
"Após uma análise de meus recortes de jornais, achei na imprensa da União Soviética, nos dez anos de meu trabalho literário, 301 citações a meu respeito.
Delas, 3 são elogiosas; 298 são hostis e ofensivas."
"... Com esses documentos na mão, eu gostaria de demonstrar que a imprensa soviética, com seus diversos órgãos públicos que se encarregam do controle das publicações, nesses anos do meu trabalho literário tentam, unânime e ferozmente,comprovar que a obra de Mikhail Bulgákov não pode existir neste país.
Eu declaro que a imprensa da União Soviética tem toda a razão".
(28/03/1930)
Editora: Arts Poética
Nº. Páginas: 437
R$ 35,91

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