Depois desta apresentação, fica o conto de hoje: Ivanushka, o Biruta(1)...freqüentava reuniões deste gênero em casa de uma família de pintores, poetas e críticos - os Máikov, em São Petersburgo. Em suma, esta tradição abrange diferentes tipos de manifestações e modalidades e se perpetua no tempo, até os nossos dias. Só para citar os "famosos", a casa de Anna Akhmatova- um apartamento antigo na antiga Leningrado e transformado em alojamento coletivo durante os anos soviéticos - nos anos 60 reunia tímidos e valorosos jovens de todas as procedências para ouvir poemas de J.Brodsi. O clima russo, um longo, escuro e gelado inverno, seguido pela explosão primaveril de um tépido sol e de luz e de um verão cálido e rico em faias e horaliças, fez nascer o hábito de reuniões entre pessoas afins, tanto nos magníficos salões às casas de campo da aristocracia, aos apartamentos urbanos e 'dachas' de campo da burguesia, até as estreitas, sufocantes e cheias de humo cozinhas dos alojamentos coletivos da época dos sovietes. Para tais reuniões, os anfitriões preparam comes e bebes apropriados à estação do ano, tudo ao som de música e se bate um bom papo ao redor da mesa, sempre sobre temas mais importantes da existência, da vida e da morte, de política, de filosofia e de arte.Se canta. Se lê: o que cada um está escrevendo. Não é um passatempo imune a perigos, tanto que depois de 1917, a participação em reuniões deste tipo conduziu mutos à cadeia. Goncharov deve ter escrito sua novela "Ninfodora Ivanova" como contributo para uma destas reuniões".(trecho extraído do prefácio da citada novela, editada pela Ed.Amaranto,Madrid)
Era uma vez um casal de velhos que tinha três filhos: os dois mais velhos eram normais, mas o terceiro era chamado de Ivanushka, o Biruta.
Os irmãos normais levavam os carneiros para pastar no campo, mas o biruta não fazia absolutamente nada: ficava o dia inteiro de papo pro ar pegando mosca.
Os irmãos normais levavam os carneiros para pastar no campo, mas o biruta não fazia absolutamente nada: ficava o dia inteiro de papo pro ar pegando mosca.
Certo dia, a velha senhora preparou alguns bolinhos de centeio e disse ao bobo:
- Aqui estão alguns bolinhos; leve-os para seus irmãos almoçarem.
Encheu um pote com os bolinhos e o filho saiu pesada e desajeitadamente em busca dos irmãos.
- Aqui estão alguns bolinhos; leve-os para seus irmãos almoçarem.
Encheu um pote com os bolinhos e o filho saiu pesada e desajeitadamente em busca dos irmãos.
Era um dia ensolarado; quando Ivanushka pegou a estrada, viu sua sombra a seu lado e pensou:
-Quem é esse homem? Ele caminha sempre a meu lado e não me deixa por um instante sequer; com certeza quer alguns bolinhos.
Começou a atirar bolinhos para a sua sombra e, um depois do outro, atirou-os todos, mas a sombra continuava andando a seu lado.
- Mas que glutão insaciável, -disse o bobo com raiva, e atirou o pote na sombra, cujos cacos voaram em todas as direções.
Chegou de mãos abanando no local onde estavam seus irmãos. Eles lhe perguntaram:
- O que você veio fazer aqui, seu bobo?
- Vim trazer seu almoço.
- E onde está ele? Passe logo para cá!
- Bom, sabe gente, um estranho me seguiu o caminho todo, até aqui e comeu tudo.
-Que estranho?
- Aqui está ele, até agora ele está aqui do meu lado.
Os irmãos começaram a xingá-lo e a bater nele; depois de bater, disseram-lhe para cuidar dos carneiros e foram eles próprios para casa almoçar.
-Quem é esse homem? Ele caminha sempre a meu lado e não me deixa por um instante sequer; com certeza quer alguns bolinhos.
Começou a atirar bolinhos para a sua sombra e, um depois do outro, atirou-os todos, mas a sombra continuava andando a seu lado.
- Mas que glutão insaciável, -disse o bobo com raiva, e atirou o pote na sombra, cujos cacos voaram em todas as direções.
Chegou de mãos abanando no local onde estavam seus irmãos. Eles lhe perguntaram:
- O que você veio fazer aqui, seu bobo?
- Vim trazer seu almoço.
- E onde está ele? Passe logo para cá!
- Bom, sabe gente, um estranho me seguiu o caminho todo, até aqui e comeu tudo.
-Que estranho?
- Aqui está ele, até agora ele está aqui do meu lado.
Os irmãos começaram a xingá-lo e a bater nele; depois de bater, disseram-lhe para cuidar dos carneiros e foram eles próprios para casa almoçar.
O biruta pôs-se a cuidar dos carneiros; vendo que estavam espalhados por todo o campo, resolveu junta-los e arrancar-lhes os olhos. Juntou-os num cantinho, arrancou os olhos de todos eles, fez com que se amontoassem formando uma pilha e sentou-se em cima deles, alegre como uma cotovia. Achou que tinha feito uma proeza.
Os irmãos almoçaram e voltaram ao campo.
- seu biruta, que disparate você aprontou aqui? Porque os carneiros estão todos cegos?
- ara que eles precisam de olhos, irmãos? Quando vocês foram embora eles se espalharam por todos os campos e por isso pensei que seria uma boa idéia pega-los, junta-los e arrancar-lhes os olhos. Deu um trabalhão daqueles e me deixou muito cansado.
- Espera aí, que a gente vai mostrar-lhe o que é estar cansado - disseram os irmãos e começaram a esmurrar-lhe com os punhos. O Biruta foi bem recompensado por todo seu trabalho...
Algum tempo se passou, muito ou pouco - não se sabe. Um dia, os velhos pais mandaram Ivanushka à cidade comprar mantimentos para as férias. Ivanushka comprou muitas coisas- uma mesa, colheres, chícaras e sal.
- seu biruta, que disparate você aprontou aqui? Porque os carneiros estão todos cegos?
- ara que eles precisam de olhos, irmãos? Quando vocês foram embora eles se espalharam por todos os campos e por isso pensei que seria uma boa idéia pega-los, junta-los e arrancar-lhes os olhos. Deu um trabalhão daqueles e me deixou muito cansado.
- Espera aí, que a gente vai mostrar-lhe o que é estar cansado - disseram os irmãos e começaram a esmurrar-lhe com os punhos. O Biruta foi bem recompensado por todo seu trabalho...
Algum tempo se passou, muito ou pouco - não se sabe. Um dia, os velhos pais mandaram Ivanushka à cidade comprar mantimentos para as férias. Ivanushka comprou muitas coisas- uma mesa, colheres, chícaras e sal.
Encheu uma carroça inteira com objetos de todo tipo. Tomou o caminho de casa, mas seu cavalo, ao que parece, não era tão forte para esta carga pesada e caminhava muito lentamente. Ivanushka pensou consigo mesmo:
- Afinal de contas, a mesa tem quatro pernas como o cavalo. Porque não deixa-la ir para casa sozinha? E colocou a mesa na estrada. Continuou andando com a carroça, uma distância longa ou curta - não se sabe, e os corvos faziam círculos à sua volta, grasnando, grasnando.
- Os irmãozinhos devem estar com fome, senão, porque estariam gritando desse jeito? - pensou o biruta e tirou os pratos com mantimentos para servir os corvos.
- Comam, irmãozinhos, vocês são bem vindos, disse ele e continuou lentamente pela estrada, aos sacolejões.
- Afinal de contas, a mesa tem quatro pernas como o cavalo. Porque não deixa-la ir para casa sozinha? E colocou a mesa na estrada. Continuou andando com a carroça, uma distância longa ou curta - não se sabe, e os corvos faziam círculos à sua volta, grasnando, grasnando.
- Os irmãozinhos devem estar com fome, senão, porque estariam gritando desse jeito? - pensou o biruta e tirou os pratos com mantimentos para servir os corvos.
- Comam, irmãozinhos, vocês são bem vindos, disse ele e continuou lentamente pela estrada, aos sacolejões.
Ivanushka passou por um bosque de árvores novas: ao longo da estrada havia uma fileira de troncos cortados.
- Ah, - pensou ele- os pobrezinhos destes meninos não tem gorros! Desse jeito vão pegar um resfriado- e colocou seus potes e jarras de barro em cima deles.
Depois, Ivanushka chegou a um rio e resolveu dar água a seu cavalo, mas ele se recusou a beber.
-Provavelmente, ele não quer água sem sal - pensou ele e começou a jogar sal no rio. Jogou um saco inteiro de sal e, ainda assim, o cavalo se recusava a beber.
- Porque você não bebe, sua carcaça velha? Joguei um saco inteiro de sal no rio para nada?- e bateu com um pedaço de pau na cabeça do cavalo, que morreu ali mesmo.
Agora, tudo o que restava a Ivanushka era um saco com as colheres, que ele jogou sobre os ombros e pôs-se a andar; mas as colheres começaram a chacoalhar nas suas costas - tratata-tam, tratata-tam, tratata-tam! E ele achou que as colheres estavam dizendo"Ivanushka é tarado" e, por isso, jogou-as ao chão e pulava em cima delas, repetindo: "Isso vai ensinar vocês a me chamarem de tarado! Não se atrevam mais a me xingar, coisas ruins"!
Voltou para casa e disse:
- Comprei tudo o que precisamos, irmãozinhos.
- Obrigado, Biruta, mas onde estão as compras?
- A mesa está vindo, mas parece que está atrasada. Nossos irmãozinhos os corvos estão comendo os mantimentos, que lhes deixei nos pratos. Os potes e as jarras de barro eu pus na cabeça dos meninos que encontrei no bosque. Usei o sal para temperar a água do cavalo e as colheres me xingaram, por isso as joguei fora.
-Corre, seu biruta, vai pegar tudo o que espalhou pela estrada.
Ivanushka foi para o bosque, retirou os potes dos troncos cortados, sovou-os na base e amarrou uma dúzia deles, grandes e pequenos, em uma corda. Quando os trouxe para casa, seus irmãos o espancaram e foram eles mesmos à cidade fazer as compras, deixando-o em casa. Ele escutou e ouviu a cerveja fermentando e fermentando na tina.
- Ah, - pensou ele- os pobrezinhos destes meninos não tem gorros! Desse jeito vão pegar um resfriado- e colocou seus potes e jarras de barro em cima deles.
Depois, Ivanushka chegou a um rio e resolveu dar água a seu cavalo, mas ele se recusou a beber.
-Provavelmente, ele não quer água sem sal - pensou ele e começou a jogar sal no rio. Jogou um saco inteiro de sal e, ainda assim, o cavalo se recusava a beber.
- Porque você não bebe, sua carcaça velha? Joguei um saco inteiro de sal no rio para nada?- e bateu com um pedaço de pau na cabeça do cavalo, que morreu ali mesmo.
Agora, tudo o que restava a Ivanushka era um saco com as colheres, que ele jogou sobre os ombros e pôs-se a andar; mas as colheres começaram a chacoalhar nas suas costas - tratata-tam, tratata-tam, tratata-tam! E ele achou que as colheres estavam dizendo"Ivanushka é tarado" e, por isso, jogou-as ao chão e pulava em cima delas, repetindo: "Isso vai ensinar vocês a me chamarem de tarado! Não se atrevam mais a me xingar, coisas ruins"!
Voltou para casa e disse:
- Comprei tudo o que precisamos, irmãozinhos.
- Obrigado, Biruta, mas onde estão as compras?
- A mesa está vindo, mas parece que está atrasada. Nossos irmãozinhos os corvos estão comendo os mantimentos, que lhes deixei nos pratos. Os potes e as jarras de barro eu pus na cabeça dos meninos que encontrei no bosque. Usei o sal para temperar a água do cavalo e as colheres me xingaram, por isso as joguei fora.
-Corre, seu biruta, vai pegar tudo o que espalhou pela estrada.
Ivanushka foi para o bosque, retirou os potes dos troncos cortados, sovou-os na base e amarrou uma dúzia deles, grandes e pequenos, em uma corda. Quando os trouxe para casa, seus irmãos o espancaram e foram eles mesmos à cidade fazer as compras, deixando-o em casa. Ele escutou e ouviu a cerveja fermentando e fermentando na tina.
-Cerveja, pare de fermentar, não provoque o Biruta!, -disse Ivanushka, mas a cerveja não lhe deu ouvidos e, por isso, ele a derramou todinha da tina, sentou-se dentro dela e ficou andando pela sala cantando musiquinhas para si mesmo.
Quando os irmãos voltaram ficaram completamente fora de si. Pegaram Ivanushka, costuraram-no dentro de um saco e levaram-no até o rio. Puseram o saco na praia(2) e saíram procurando um buraco no gelo. Justo naquele momento aconteceu de um nobre passar numa carruagem puxada por três cavalos cinzas e Ivanushka começou a gritar:
-Fui nomeado governador, para governar e julgar, mas não sei nem governar nem julgar.
- Espera aí, seu idiota - disse o nobre, - eu sei governar e julgar. Saia fora desse saco!
Ivanushka saiu, costurou o nobre lá dentro, entrou em sua carruagem e sumiu de vista.
Os irmãos voltaram, jogaram o saco sob o gelo e ficaram a escutar. Sob a água, só um resmungo.
- Ele deve estar tentando pegar um peixe, - disse um dos irmãos ao outro, - e se puseram a caminho de casa.
Como que saído do nada, surge Ivanushka diante dos irmãos, dirigindo uma tróica e gabando-se:
- Viram os cavalos que consegui? Ainda resta um cavalo cinza, uma verdadeira jóia!
Os irmãos, com inveja, disseram a Ivanushka:
-Costure-nos num saco e jogue-nos rapidamente no buraco. Vamos pegar o cinza.
Ivanushka, o biruta, jogou-os no buraco e foi para casa tomar cerveja, em honra da memória dos irmãos mortos.
Ivanushka tinha um colar, no colar havia um sino e isso é tudo o que eu tinha a contar.
Fonte:Quando os irmãos voltaram ficaram completamente fora de si. Pegaram Ivanushka, costuraram-no dentro de um saco e levaram-no até o rio. Puseram o saco na praia(2) e saíram procurando um buraco no gelo. Justo naquele momento aconteceu de um nobre passar numa carruagem puxada por três cavalos cinzas e Ivanushka começou a gritar:
-Fui nomeado governador, para governar e julgar, mas não sei nem governar nem julgar.
- Espera aí, seu idiota - disse o nobre, - eu sei governar e julgar. Saia fora desse saco!
Ivanushka saiu, costurou o nobre lá dentro, entrou em sua carruagem e sumiu de vista.
Os irmãos voltaram, jogaram o saco sob o gelo e ficaram a escutar. Sob a água, só um resmungo.
- Ele deve estar tentando pegar um peixe, - disse um dos irmãos ao outro, - e se puseram a caminho de casa.
Como que saído do nada, surge Ivanushka diante dos irmãos, dirigindo uma tróica e gabando-se:
- Viram os cavalos que consegui? Ainda resta um cavalo cinza, uma verdadeira jóia!
Os irmãos, com inveja, disseram a Ivanushka:
-Costure-nos num saco e jogue-nos rapidamente no buraco. Vamos pegar o cinza.
Ivanushka, o biruta, jogou-os no buraco e foi para casa tomar cerveja, em honra da memória dos irmãos mortos.
Ivanushka tinha um colar, no colar havia um sino e isso é tudo o que eu tinha a contar.
Livro "Contos de Fadas Russos", vol.1 - Ed. Landi
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Notas da Milu:
(1)O título original é Ivanushka Durachok, sendo que esta última palavra significa, em russo, palerma, tolo, bobo. Para ser mais precisa, "tolinho", "bobinho", já que está no diminutivo. Desta forma, a meu ver, o título da tradução não ficou muito adequado, já que biruta, segundo o dicionário Houaiss, se presta melhor para quem tem "comportamento inquieto, variável e amalucado", o que não é o caso do personagem da história, completamente palerma.
(2) Na história original, o saco foi colocado às margens do rio (на берегу) e não na praia, que ficou meio estranho, em se tratando de um rio.
(2) Na história original, o saco foi colocado às margens do rio (на берегу) e não na praia, que ficou meio estranho, em se tratando de um rio.
Um comentário:
Amiga,que maravilha de cultura e você voltou com tudo.Parabéns!
Amiga,tem um selo para você em meu blog,dê uma passada por lá e o traga para seu espaço.Um grande beijo!
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