sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

UM OLHAR SOBRE A MÚSICA SOVIÉTICA

Já me cansei de ouvir críticas por minha paixão pela cultura russa e, em particular, por adorar suas músicas, não só a clássica, mas a música russa de todos os estilos, indo da atuais às da era soviética. E é justamente aí o x do problema: os argumentos mais constantes que escuto é que as músicas soviéticas lembram canções marciais. Retruco: algumas, sim, mas qual o problema?Outras, nada tem a ver com este estilo. E é para falar da música soviética o post de hoje.

Não sou especialista em música: longe disto, sou mera e leiga apreciadora, o que não me impede de ter a pretensão de julgar conhecer um pouquinho da música dos velhos tempos soviéticos, muito influenciadas pelo
 "Realismo Socialista" - estilo artístico oficial da União Soviética entre as décadas de 30 e 60 do século passado, tendo sido adotado,  ideologicamente, como política de Estado para todas as esferas artísticas e de manifestações culturais. Prevaleceu, sobretudo, no período de Stalin, representando a tentativa de controle da produção artística pelo Partido Comunista, direcionando-a  para a propaganda: foi a revolução na arte, renovando-a, levando até ela a revolução cultural e estética, que influenciou gerações de músicos no século XX. Não só de artistas pop, mas Shostakovitch e Stravinsk também: eles foram forçados a uma adequação.

São típicas deste período canções patrióticas, enaltecendo a grandeza do país, suas riquezas e potenciais: este é, aliás, um traço bem típico legado pelo Realismo Soviético: a firme crença no progresso social, técnico e científico do país e a certeza do triunfo do socialismo, implícita em algumas de suas letras.

Outro tema bastante usual é a guerra , também, um tema constante do cinema da época e da literatura (mas a guerra não foi tema só da era soviética; o foi, também, dos tempos imperiais); isto porque o povo russo, realmente, sofreu muitas guerras e venceu outras tantas. Não teria como este elemento tão presente na sua vida, ficar fora da sua arte.

Quando o tema não é o patriotismo, tem-se músicas bem singelas e inocentes, no estilo das que nós ouvíamos na época da Jovem Guarda;isto devido a uma outra característica legada pelo realismo socialista: o recato e  a rejeição a abstrações e complexidades. Tudo com muita alegria, alegria  que servia, também, de propaganda ao regime: de maneira quase subliminar, te reporta ao regime que "dá alegria ao povo, que faz o povo feliz". Isto para não falarmos nas canções românticas, comuns em qualquer regime e em qualquer país. 

Neste período, surgiram grandes grupos vocais e instrumentais, designados VIA (Vokalno-Instrumentalny  Ansambl).  Um dos mais populares foi o Samotsvety, hoje na sua segunda geração. Neste blog você encontra, para baixar, seus álbuns.

O vídeo abaixo, do Samotsvety, é uma mostra deste estilo patriótico; o título já diz tudo: "Meu endereço é a União Soviética". No refrão, ele diz: "meu endereço não é uma casa, um número; meu endereço é a União Soviética"..."O país do cartaz 'avante'" e, ainda:"o país do trabalho canta".


Um exemplo deste tipo de música nos dá Oleg Gazmanov, embora sua carreira musical tenha se iniciado em 1981, ou seja,já nos últimos anos do regime. Suas letras são de um total patriotismo: música louvando oficiais russos, outra dedicada à Aeroflot, outra à Moscou, à Piter (São Petersburgo) e, até no pós URSS, fez a canção quase hino "Feito na URSS", que lista a série de fatores que fizeram daquele país uma potência (não se esquecendo do que existiu antes, tipo Glinka, Tolstoi, Dostoievski,Gagarin e Riurik). Outras de suas canções são, deliciosamente, românticas; outras, ainda, de uma ingenuidade extrema (passear com a garota, futebol, etc).Ressalto que este estilo não faz de Gazmanov um artista menor: sou sua fã número 1, adoro sua obra e sua voz.

Claro que existiram, também, os grandes compositores e intérpretes que fizeram maravilhas, sem se submeterem ao estilo oficial, como, por exemplo, Vladimir Vysotsky, que cantava muito sobre o alcoolismo, loucura, manias e obsessões (ele próprio sofreu, pouco antes de morrer, de alcoolismo). 

Acima, Vysotsky
Outros,  faziam um  sutil desafio às autoridades soviéticas, como é o caso de Bulat Okudzhava. Aliás, os bardos, em geral, não se enquadraram e o termo bardo passou a ser usado, no início dos anos 60, justamente para se referir  aos cantores e compositores que não se "adequavam" à "arte-propaganda". Mas estes, jamais foram reconhecidos pelas autoridades; os que "rezaram de acordo com a cartilha" foram super homenageados e premiados.

Okudzhava
O ponto mais positivo do período foi evitar a ocidentalização da música russa e soviética, a sua descaracterização via estilos e ritmos importados, o que passou a se dar, até certo ponto, a partir da "perestroika", em 85. Mas a música russa é resistente e, malgrado ritmos importados terem sido absorvidos por novos cantores e grupos, o estilo tradicional ainda persiste, com grandes nomes que estão sendo, inclusive, reverenciados no exterior, como é o caso de Dmitri Khvorostovsky.

Um comentário:

Andrey disse...

Olá!

S/ a críticas, desencane... só quem conhece o estilo russo de ser, é descendente ou está vivendo a russian life, sabe o que é...

Parabéns pelo seu blog e trabalho!

Andrey

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