terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

TOLSTOI, O REVOLUCIONÁRIO

Nenhum russo do século XIX se tornou tão famoso e adorado tanto dentro como fora de seu país como Lev Nikolaevitch Tostoi. No fim de sua longa vida, que durou de 1828 a 1910, era considerado o "czar de Yasnaya Polyana", sua propriedade rural, a exemplo de Voltaire, o "rei sem coroa" de Paris em sua época. Em ambos os casos, eram nomes que funcionavam com emblemas de seus países no exterior, ao mesmo tempo que, cada um deles, era um espinho cravado na carne dos governos e Igrejas estabelecidas no limiar da revolução (Voltaire morreu em 1778, pouco antes da Revolução Francesa, iniciada em 1789 e Tolstoi morreu 7 anos antes da Revolução Bolchevique).

Tolstoi foi um dos grandes subversivos do século XIX, equiparando-se - neste aspecto, a Darwin, Marx ou Freud, mas ao contrário de todos eles (e neste ponto, se assemelhando a Nietzsche e a Dostoievski) -rejeitando as pretensões do progresso científico. Como Voltaire, descarregou suas baterias contra a Igreja, chegando a ser excomungado.

Como "revolucionário", era estranho, pois detestava a violência, o socialismo e mesmo o liberalismo e os valores burgueses, com o desprezo de um aristocrata que nunca deixou de ser, ao mesmo tempo que denunciava o Estado, a Igreja e todo artificialismo da sociedade em que vivia e que acusava em termos que poucos revolucionários da extrema esquerda conseguiam igualar. A sua retórica era denunciadora , muitas vezes se aproximando do anarquismo; sua visão era de uma sociedade justa era patriarcal e populista; os seus argumentos eram morais; a sua visão era clara e os seus valores simples de uma vida natural e sem corrupção.

Eventualmente, chegou a propagar aquilo que constituía, na realidade, a sua religião, uma forma simplificada de cristianismo sem o obscurantismo, retirando dos Evangelhos alguns preceitos essenciais, tipo "não julgues, para não ser julgado"; "não retribua o mal com o mal" e coisas do gênero, que passaram a ser nomeadas como"preceitos tolstoianos" (o que, na realidade, deveriam ser os preceitos de cada ser humano,o oposto do que vemos na nossa sociedade moderna e materialista, onde imperam preceitos tnada "tolstoianos"; onde até a TV explora este oposto como fórmula para seus degradantes programas: basta olhar o exemplo da Rede Globo com seu deplorável BBB, suas novelas repletas de um maniqueísmo, ridículo, com requintes de maldade, o que faz com que o mal caia na banalidade e o bem seja ridicularizado)...

Com o avanço da idade, Tolstoi se aproximou de pontos de vista mais extremos e de fato revolucionários. Quando novo, levava a vida dissoluta dos jovens aristocratas e de oficial brilhante que era, homem viajado, que lera muito, mas que nunca se sentiu a vontade nos círculos intelectuais. O serviço militar na Criméia e no Cáucaso não só lhe aguçou o talento literário mas, também, lhe estimulou uma repugnância moral pela guerra e curiosidade pelos valores fundamentais do caráter humano.

Tolstoi, de uniforme militar à sua direita e seus irmãos


















Depois das guerras, veio o casamento e o nascimento dos filhos, passando a viver no campo, período super fértil, em que escreveu duas das maiores obras primas de todos os tempos: Guerra e Paz e Anna Karenina, ambas abordando como tema a família(que, em Guerra e paz fez girar em torno da guerra napoleônica), apresentando uma teoria completa da história, desvalorizando as pretensões de "grandes homens", polemizando com as convenções heróicas, patrióticas e belicistas predominantes nos relatos do gênero, apresentando retratos psicológicos crus e convincentes, tanto dos militares russos ,quanto dos seus adversários.Para o padrão de novela européia do século XIX, o que ele fez foi uma subversão, saindo da forma habitual de literatura imaginária e partindo em busca de uma investigação de fatos, investigação esta profunda e, até mesmo, antinovelesca.

Seu romance politicamente mais revolucionário é "Ressurreição", onde o que predomina não são elementos da nobreza e sim da massa popular, focalizada no centro do sistema repressivo em que se apóia a dominação social. Neste romance, ele mostra um mundo onde a ilusão acabou e já não há espaço para ela; não existe mais acordo entre privilegiados e subalternos; é a hora e a vez da revolta manifestada na religião.
Termino o post focando Khadji-Murat, obra que põe em cena um líder rebelde caucasiano,(ujo nome dá título à obra), em sua luta contra a incorporação da Tchetchênia e do Daguestão pelos russos. Nada mais atual e procedente, diante dos atentados tchetchenos à Moscou, justamente pelos mesmos motivos que Tolstoi já denunciava neste livro, o que faz de sua obra sempre atual e politicamente correta, malgrado as muitas contradições que o autor abrigava e que fizeram dele o gênio criativo que foi.

Leitura recomendada: "Leão Tolstoi", por M.Gorki, editora Elos.

Bibliografia:
-Panorama da Literatura Russa(Entrelivros)
Leao Tolstoi, por M. Gorki (Ed.Elos)
-Grandes Impérios e Civilizações(Edições Del Prado)

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