sexta-feira, 1 de abril de 2011

MAIS UM TRECHO DOS DIÁRIOS ÍNTIMOS DE TOLSTOI E SOFIA

Há meses atrás iniciei a postagem de trechos dos "Diários íntimos" de Tolstoi e Sofia, sua esposa. Mal iniciei, parei as postagens, por achar que não estavam tendo uma receptividade que justificasse o trabalho da digitação, bem como minha exposição aos fatídicos ácaros, que - apesar de todo o cuidado que tenho com meus livros, vez por outra atacam os que são bem mais velhos do que eu,,como é o caso deste volume de 1943, restaurado não faz muito tempo, pulverizado com certa freqüência por acaricida e que, ainda assim, mantém um certo odor de livro antigo.

Retomo este trabalho hoje, após receber uma mensagem que me incentivou a isto. Enquanto tiver um único leitor que seja, o trabalho nunca será em vão.Quem quiser ler o post anterior, basta clicar AQUI, onde estão explicados detalhes da elaboração dos diários.

Inicio, hoje, pelaintrodução aos diários, feita por Sergey, filho do casal, importante para compreender muito do relacionamento tumultuado entre Lev Nikolaevitch e Sofia Andreevna.Além disto, o leitor, por este trecho de depoimento do filho de Tolstoi, pode ter uma idéia da rotina de vida do escritor.
"Para bem compreender as relações de meus pais nas proximidades de 1910, é indispensável que nos reportemos ao passado. A causa real de sua desinteligência foi o conflito sobrevindo entre o antigo Lev Nikolaievitch Tolstoi e o novo, quando se concretizou a mudança de sua concepção do mundo. A antiga maneira de ver, que sua mulher adotara, entrou em choque com sua nova doutrina, que em muitos pontos com ela contrastava.Ele mesmo percebia isto e lamentava-se sem cessar em suas obras. Relativamente a sua família, Tolstoi adotou como regra que até o ano de 1881, mais ou menos, fora um outro homem e que esse homem - o proprietário e o literato - estava, por assim dizer, morto, e que naquela data outro homem nascera; um homem que não reconhecia a propriedade, não escrevia para ganhar dinheiro, mas sim pelo bem da sociedade. Por isso, passara à sua família a herança deixada pelo primeiro homem. Tinha dado à Sofia Andreevna pelnos poderes para a gestão de seus negócios, dos quais não mais se ocupava desde maio de 1883); deixou-lhe a incumbência de fazer editar suas obras antes de 1881 e um ato de separação redigido em 1892. Mas em 1891 declarara que todos os seus escritos públicos posteriores à 1881 e tudo o que de então em diante se destinasse à publicação, poderia ser editado por qualquer pessoa.


Metade de Iasnaia Poliana tocava a Sofia Andreevna; a outra metade - inclusive a casa - a seu jovem filho Ivan e, após a morte de Ivan(1895), sua parte, conforme as leis da época, coube a seus cinco irmãos. Minha mãe não compartilhava do ponto de vista negativo de meu pai, relativamente à propriedade; pelo contrário, não deixava de julgar que quanto mais ricos fossem seus filhos e netos, tanto melhor. Era ela quem se encarregava de Iasnaia Poliana, de gerir todos os negócios, não só a sua parte, mas também a de seus filhos. Procurava alcançar o máximo com as obras de Lev Tolstoi e de aproveitar, não só suas edições anteriores a 1881, mas também o que ele escrevera depois dessa data.
Meu pai não podia se resignar com isto. O ritmo de vida burguês de sua família e toda a administração de Iasnaia Poliana afligiam-no. Semelhante ordem de coisas realmente exigia medidas de proteção e, por conseguinte, violência, e no que se refere às suas obras, ele escrevera no seu diário (27/03/1895):
"O fato de minhas obras terem sido vendidas durante estes últimos dez anos, constituiu para mim a provação mais difícil de minha vida".
Mas pode-se acusar minha mãe por ter cuidado dos interesses materiais de sua posteridade? Poderão aqueles que a culpam apontar muitas mães que não desejem a felicidade material de seus filhos?
A partir de 1902, os Tolstoi não iam mais passar o inverno em Moscou e permaneciam em Iasnaia Poliana. Conseguira estabelecer-se um certo modus vivendi e, na aparência, mas somente na aparência, tudo parecia ir o melhor possível. Na primeira metade de 1910, a vida em Iasnaia Poliana continuou a decorrer como durante os anos anteriores. O dia de lev Nikolaevitch dividia-se com bastante regularidade. Levantando cerca de oito horas da manhã, fazia o quarto, saía para um pequeno passeio e punha-se a trabalhar. Almoçava às duas horas, após o que andava ou montava a cavalo; de volta do passeio fazia uma sesta e pelas seis horas jantava com a família. Durante o verão lia, participava da conversação ou escutava música,jogava xadrez ou "whist" e, aproximadamente, à meia noite se deitava."
Por hoje é só. Até o próximo post, em continuidade aos diários íntimos do autor de Guerra e Paz.
Tostoi em família, durante o aniversário de seu filho Lev, cuja esposa está em pé, servindo sopa

2 comentários:

José Sousa disse...

Querida amiga Milu!
Faz um tempo que não vinha te vesitar, por motivos de ocupação de trabalhos escolares! Mas vim, e logo encontro este belo escrito seu, parabéns!

Conheça meu novo blogue e comenta lá.

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Um beijão e bom fim de semana.

Thiago Quintella de Mattos disse...

Que beleza Milu!1 A intimidade do Seu Lev, mostrada pelo filho! SAbe que me senti parceiro dele? heheh!

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