sexta-feira, 19 de novembro de 2010

LIVRO: PIOTR ILITCH TCHAIKOVSKI, UMA BIOGRAFIA (A.HOLDEN)


Não posso afirmar que este foi o melhor livro que li sobre Tchaikovsi, pois mentiria. Apesar de falar sobre ele de forma muito pulverizada, o livro São Petersburgo, uma História Cultural, do russo Solomon Volkov, ainda é o que mais me agradou, apesar de dedicar um espaço bem menor para o autor do que o livro matéria deste post, já que o livro de Volkov fala de vários outros personagens que dão vida à cultura desta cidade.

No presente livro, achei que Holden se prendeu quase que apenas à questão sexual de Tchaikovski que, para mim, era muito maior e mais complexo do que isto. O autor do livro vê nesta questão a explicação para a vida e a obra do brilhante compositor russo (na verdade, nascido na Ucrânia). Holden fez exatamente o oposto do que a versão oficial da Rússia - tanto a czarista, quanto a soviética - que durante muito tempo escondeu seu homossexualismo (assim como escondeu o suicídio do compositor).

Este livro tem, portanto, o mérito de tirar o véu que protegia, há anos, a vida privada de Tchaikovski, envolvida em mistério por mais de um século. Para tanto,
" Holden vasculhou, por quatro anos, minuciosamente, arquivos nos Estados Unidos, na Rússia e em diversos países europeus, buscndo provas que fundamentassem o final trágico do compositor. O resultado é um novo retrato do compositor, que explica sua morte como o clímax lógico de sua angustiada homossexualidade.
A versão oficial aceita até hoje é a da morte acidental, já que Tchaikovski teria bebido um copo de água contaminada pelo vibrião da cólera, uma epidemia em São Petersburgo. Já Holden, com base na correspondência do compositor, no estudo de depoimentos de contemporâneos e em documentos liberados por arquivos russos, vê Tchaikovski como um mártir gay, que a homofobia russa teria levado ao suicídio. Holden diz que a tese da cólera, baseada no depoimento do irmão de Tchaikovski,não passa de disfarce.
O autor relata aventuras em Paris, o interesse do autor por rapazes, a obsessão pelo sobrinho e a vida boêmia em São Petersburgo, onde ele circulava em meio a um conhecido grupo de homossexuais. Holden lembra que na Rússia o homossexualismo era ilegal, o que levou o reconhecido compositor a se casar com Antonina Miliukova, sua aluna do conservatório de Moscou. Mas esta tentativa de abafar sua opção sexual durou pouco. Apenas três semanas após o casamento ele tentou suicídio, jogando-se em um rio gelado. Mais tarde, sua homossexualidade teria sido denunciada ao czar, o que o teria levado ao suicídio, para lavar sua imagem.
Não estou contestando a obra, de jeito algum; apenas faço algumas observações com base no que conheço dos russos e do que sei da história de alguns intelectuais russos, por meio da autobiografia da Akhmatova, do livro do Volkov, de amigos russos, entre outros:

- os russos atuais não são homofóbicos, aceitando com naturalidade o homossexualismo (conheço pais de homossexuais, que encaram a opção dos filhos na maior naturalidade;
-Tchaikovski teve contemporâneos famosos homossexuais ou bissexuais e nenhum deles perseguido por isso: Gogol, Andrei Bieli, entre outros, além da suspeita que pesa sobre a sexualidade de Tchekhov(se teria sido bi-sexual ou assexuado). Dizem, também, que Boris Pasternak foi um homossexual. A própria Akhmatova teve experiências com mulheres. Todos estes viviam na fantástica São Petersburgo.

A conclusão que fica, colocadas as ressalvas, é que vale a pena ler o livro, para se conhecer um pouco mais a vida e a obra do compositor, sob ângulos ainda desconhecidos. O livro contém inúmeras ilustrações, além da análise de sua obra.

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