Cada uma das novelas inseridas sob este título representa uma privação: em Avenida Nievski vê-se a privação do sonho; em Diário de Um Louco - a privação da proteção social; em O Nariz nota-se a privação do próprio corpo; O Retrato mostra a privação do talento e, finalizando, a privação do sentido da vida em O Capote. Tudo isto devido à cidade, que sufoca e priva seus habitantes do essencial para a vida.
"Tudo respira impostura, ela mente o tempo todo, esta Avenida Nievski, sobretudo quando a noite sobre ela se abate em massa compacta e acusa o amarelado pálido das fachadas, quando toda a cidade se transforma em relâmpagos e trovão, quando milhares de carruagens rangem sobre as pontes, quando os cocheiros urram sobre seus cavalos a galope, quando o próprio demônio acende as lâmpadas, somente para fazer ver as coisas como elas são"
(trecho de Avenida Nievski)
A edição em português, saiu com o nome de "Contos de São Petersburgo". Em tradução direta do russo, por Nina e Filipe Guerra, a edição da Biblioteca Editores Independentes acrescentou às cinco novelas citadas, o conto "A Caleche".
Todos estes contos estão impregnados de sátira e humor, marca registrada de Gogol. A crítica russa da época de Gógol reagiu indignada contra estes contos:
"Como pessoas refinadas puderam encontrar interesse em narrativas caricatas dos aspectos mais sujos da vida de porteiros, lacaios, cocheiros, cozinheiros, comerciários, notívagos irresponsáveis e mulheres ridiculamente enfeitadas?"(S.Volkov - Petersburgo, uma história cultural)Mas houve, também, críticas muito favoráveis ao autor e seu tema. Uma delas, para mim a de maior peso, saiu de Fiodor Dostoievski, que declarou
"Nós todos saímos de O capote".Já à anna Akhmátova não agradava em nada esta visão tão terrível de Gógol a respeito de sua amada Petersburgo: o palco da bacanal de entes diabólicos, hostis, cujo chão, sempre movediço (a cidade foi construída em um pântano), ameaçava engolir os prédios majestosos, as repartições públicas e sua multidão de funcionários medíocres. É isto que o leitor vai perceber em Novelas de São petersburgo. Vai notar, também, que sua temática a respeito da burocracia e do funcionalismo público é sempre atual e independe de posição geográfica.
Finalizo com meu protesto contra as editoras brasileiras, por não lançarem o resto da obra de Gogol. Falta muita coisa sua ainda para editar no Brasil, o que é injusto para com o leitor daqui, que fica privado de conhecer muito conto e novela excelente.
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