quarta-feira, 25 de agosto de 2010

LIVRO RECOMENDADO: OS ESCOMBROS E O MITO(BORIS SCHNAIDERMAN)





















A cultura russa é tão rica (e sua literatura, em especial), que quanto mais procuro conhece-la, mais percebo que ainda falta muito para apreender a seu respeito. o que justifica minha busca incessante por material, aí incluindo sites, livros e outros recursos disponíveis tanto em lojas daqui, da Rússia, como na internet.
Nesta busca, encontrei o livro "Os Escombros e O Mito", do já muito citado neste blog Prof. Boris Schnaiderman. Nele, o prof. Schnaierman reflete sobre a cultura russa após

"o turbilhão e a reviravolta que tornaram mundialmente famosas palavras como glasnost e pierestróika".

Eis a questão central da obra:
"como analisar a produção poética e crítica de uma literatura que, elevada à vanguarda das criações humanas universais desde o século XIX com as obras de Dostoievski e Tolstoi, Maiakóvski e Bakhtin, entre tantos outros, de repente vê o desmoronar da União Soviética e o fim de certa utopia revolucionária? Boris Schnaiderman enfrenta o desafio da nova cena histórica em suas várias implicações culturais. Para isso, reúne seu vasto conhecimento crítico e literário sobre a modernidade russa, com uma pesquisa das mais atualizadas sobre os rumos e tendências de hoje".
E Schneiderman fala tudo e de tudo, com a autoridade de um soviético: ele é ucraniano, nascido no ano zero da Revolução, exatamente em 1917;veio para o Brasil aos oito anos de idade, tornando-se, mais tarde, professor de língua e cultura russa na USP e a maior autoridade do assunto por aqui.
O autor "disseca", por assim dizer, todo o processo cultural da glasnost, dando aos ocidentais uma visão mais profunda dos bastidores deste processo:

"É importante frisar que a glasnost iniciada em 1985 não surgiu de repente, nem baixou apenas da cabeça de Gorbatchóv. Se a Rússia passou, mesmo em períodos de realizações espetaculares, por um esmagamento brutal da cultura, houve formas subterrâneas de manifestação, e elas acabavam vindo à tona sempre que havia algum tipo de abrandamento".
Sobre a imprensa, sempre alvo da censura e da falta de liberdade em regimes ditatoriais, ele escreve:

"Uma das características da imprensa da glasnost foi o empenho com que ela se se lançou à tarefa de mostrar as mazelas da vida soviética.
Realmente, impensável, para nós que já vivemos regime de excessão, pensar na imprensa soviética denunciando injustiças, contradizendo planos quinquenais, botando os podres do regime p'ra fora....E Schneiderman vai mostrando, neste livro, tudo isto e muito mais: o que o regime fez com grandes escritores e intelectuais, calando mesmo os que não eram envolvidos em nenhuma atividade política e as seqüelas neles deixadas por retaliações injustas, como tudo isto afetava a produção cultural do país. E estas seqüelas atingiram grandes nomes, como Ossip Mandelstam, Bulgakov, Ana Akhmátova, entre outros.

Enfim, Boris Schnaiderman vai apontando todo o processo de asfixia cultural da União Soviética, ilustrando sua narrativa com fatos curiosos e interessantes, que prendem a atenção do leitor que fica, a cada página, mais e mais preso à leitura.

Schneiderman aponta, ainda, para uma literatura rica e complexa no período pós 1917 , mesmo com todo o processo, acima citado, de asfixia cultural. A partir de 1985, o público soviético conviveu com uma ressurreição de autores colocados "fora de circulação" pelo regime. Exemplo disto foi Andrei Bieli, um dos meus autores favoritos, que se tornou famoso em seu país justamente a partir da glasnost. Dele posso citar o romance Petersburgo, Moscou (este, que eu saiba, nunca editado no Brasil, assim como "O pombo de prata"e "Sinfonias", também de sua autoria).

Neste mesmo período, foi, também, lançado na Rússia, , o romance "Os Filhos da Rua Arbat", de Anatoli Ribakov, conhecido como "o livro da perestroika".

A fim de não me estender demais neste post, finalizo com a afirmação de que o livro do prof. Schneiderman é, entre outras coisas, um roteiro de obras obrigatórias para leitura. Muitos dos autores e livros citados por ele eu desconhecia. Assim sendo, fica esta dica, e mais do que dica, esta recomendação de leitura de "Os escombros e o Mito". O amante da cultura russa e, em particular, da literatura russa, vai terminar a leitura da obra agradecido a Boris Schneiderman por compartilhar com o leitor seu vasto conhecimento e suas observações esclarecedoras.

(Editado pela Cia. das Letras, 305 páginas)

Nenhum comentário:

GOSTOU DO BLOG? LINK ME

www.russiashow.blogspot.coms