quarta-feira, 7 de abril de 2010

A POESIA SOVIÉTICA DE ANDREI VOZNESSENSKI


ODE AO FOFOQUEIRO

Eu louvo o buraco da fechadura.
Caluniadores -
viva!
Que todas as reputações, abaladas,
caiam
nas rangentes molas de uma cama!

Ah, os fofoqueiros! Ah, as suas histórias!
Adoro seus lábios soberanos,
seus ouvidos
que parecem vasos sanitários,
branquinhos e infalíveis.

As invencionices gorgolejam
no esgoto de suas orelhas:
o gato, na datcha do escritor,
comeu a pombinha do vizinho;
o sr. A foi apanhado em flagrante,
no canteiro de rabanetes, com a bailarina B...

Eu estava morando em Novosibirsk
e, de longe, vinham fofocas sobre você.
Como projeteis, os telefonemas
choviam sobre mim.
Como a um tenor mandam-se crisântemos,
a mim mandavam cartas anônimas.

Os interurbanos tocavam.
E vozes de baunilha adocicadas
contavam que você já tinha outro amante,
que seu admirador era ruivo e barrigudo,
que o cabelo dele queimava como o amor que tinha por você
e que, na palma de suas mãos, você se derretia toda.

Voltei.
Na rua Volkhonka,
havia negras estrias de neve derretida.
E tudo não passava de mentira,
não passava de culpa imaginária,
Embrulhada em seu casaco de pele,
você cheirava a neve e a primavera.

Natasha querida, se para alguma coisa
serviu a calúnia, foi para
confirmar sua inocência
e fazer
brilhar ainda mais forte
a sua luz!
A mentira deles serviu de garantia
do seu amor, da sua saudade...

Gritemos, querida, a plenos pulmões:
viva os caluniadores!
viva esses línguas soltas!
Mas por que, de repente, esse silêncio mortal?

Já não acusam, já não condenam.
E o telefone não toca mais...

"Andrei nasceu em Moscou e, ainda estudante, enviou alguns de seus textos a Boris Pasternak. Entusiasmado com seu talento, o autor de Dr. Jivago tornou-se seu amigo e protetor, conseguindo a plublicação de seus primeiros poemas. Assim como Ievtuchenko, Vozniessienski revelou ser um grande declamador e seus recitais eram muito concorridos.
Ficou, a partir de 1963, sob vigilância e foi proibido de publicar seus trabalhos e se apresentar em público. Apesar disto, seus poemas são, em geral, apolíticos, preferindo abordar temas como a arte, o desejo de liberdade e a força do espírito humano, numa moldura que, com frequencia, é satirica ou expõe uma visão surrealista da realidade."

Tanto os poemas, quanto a micro biografia, foram extraídos do livro " Poesia Soviética ", com seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho. Para quem se interessar por cultura russa e/ou soviética, este livro é uma excelente pedida. Impecável, tanto na tradução quanto na escolha dos poemas, ele nos fornece uma visão bem ampla da literatura, mais especificamente, da poesia, no período em que a URSS existiu. Alguns dos poetas, para não falar a maioria, é desconhecido do público ocidental. Vale a pena conferir.
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à venda em todas as livrarias.

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