quinta-feira, 8 de abril de 2010

EXTRATOS DO LIVRO: OS MAIS BELOS CONTOS DA RÚSSIA

Este é um livro maravilhoso livro de contos russos, com ilustrações primorosas de Mariana Beliayeva. "Reúne oito preciosos volumes de grande formato, onde o folclore, as tradições e a magia da alma russa surgem magicamente em um conjunto de contos onde podemos encontrar o sobrenatural, pungente melancolia e divertida ironia, tendo como pano de fundo as paisagens intemporais da Grande Mãe Rússia. Cenários, rostos, trajes renascem com frescura através da grande e versátil expressividade do pincel de Mariana Beliayeva".
(texto extraído da contracapa do livro)


Claro que depois desta apresentação, me resta pouco a acresentar, ficando mais fácil para mim postar um dos contos do livro, que editado pela Editora Civilização e deve se encontrar disponível em todas as livrarias.
Não vou postar aqui, por preguiçosa que sou, todas as ilustrações deste conto, mas pela que estou postando o leitor poderá ter uma idéia da beleza do livro. Apesar de ser uma obra infanto - juvenil, recomendo à qualquer um que se interesse pela literatura russa, uma literatura tão antiga e bela.

O PEIXINHO DE OURO

Há muitos e muitos anos, perdida no imenso silêncio do oceano, havia uma ilhota em cujo centro se erguia uma choupana. Aí viviam, muito pobres, um velho e uma velha. Era o velho que, tendo feito uma rede, costumava ir buscar ao mar o sustento de ambos.
Certo dia, tendo lançado a rede, esta pareceu-lhe mais pesada do que nunca. Içou-a e qual não foi o seu espanto ao verificar que, entre as malhas, só havia um peixe. Mas não era um peixe normal, era um peixinho de ouro. Com voz humana o peixinho suplicou-lhe:
_ Não me apanhes, bom velho! Deixa-me voltar para o mar que eu virei a ser-te útil. Dar-te-ei tudo o que me pedires.
Estupefato, o velhinho respondeu:
_Não preciso de nada. Volta para o mar!
Dizendo isto, o velho atirou à água o peixinho de ouro e regressou a casa.
Encontrou a velha à porta, que imediatamente lhe perguntou:
_ Fizeste boa pesca, velho?
_ Só um peixinho de ouro, mas voltei a deita-lo ao mar. Pediu-me tanto! Dizia assim: " Ser-te-ei útil: dar-te-ei tudo o que me pedires!" Fez-me tanta pena a que, mesmo sem lhe ter pedido nada, deixei-o ir-se embora.


A velha ficou furiosa:
_ Ah, velho idiota! Tiveste a fortuna nas mãos e não a soubeste aproveitar. Podias ao menos ter-lhe pedido o pão. Daqui a pouco não há nem um bocado de pão seco. Com que havemos, então, de encher o estômago?
E continuou a gritar, até que o velho, que já não a podia ouvir, foi à beira-mar pedir pão ao peixinho.
_ Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
O peixinho nadou até a margem:
O que queres, bom velho?
_ A minha mulher zangou-se e diz que quer pão.
_ Volta para casa, reza a Deus e terás o pão - assegurou o peixinho.
Ao entrar em casa, o velho perguntou:
_ Então, mulher, já há pão que chegue?
A única resposta foi:
_ Pão há de sobra, mas olha que a tina se rachou e não sei onde lavar a roupa. Vai ter com o peixinho de ouro e pede-lhe que me dê uma nova.
O velho foi à beira-mar:
_ Peixinho de ouro, Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
O peixe apareceu a nadar.
_ Que queres agora, bom velho?
_ A minha mulher mandou-me vir aqui pedir-te uma tina nova para lavar a roupa.
_ Está bem. Vai para casa, reza a Deus e terás uma tina nova.
Ainda mal chegava a casa, já a mulher vinha ao seu encontro.
_ Vai já ter com o peixinho de ouro. Pede-lhe que nos construa uma cabana nova. Na nossa é impossível viver!
Mais uma vez o velhote se encaminhou para o mar e pediu:
_ Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
O peixinho aproximou-se imediatamente a nadar.
_ O que foi, bom velho?
_ Constrói-me uma choupana nova. A velha só grita e não me dá descanso. Não quer viver numa casa que está a cair aos bocados.
_ Não te desesperes, bom velho. Vai para casa, reza a Deus e tudo será feito.
O velho voltou para casa e, no lugar da cabana, erguia-se agora uma casa feita de bom carvalho. Mas a velha vinha ao seu encontro a gritar:
_ Ah, velho pateta! Não sabes aproveitar a sorte. Pediste uma nova choupana e pensavas que isso era tudo? Não! Vai outra vez ter com o peixinho de ouro e diz-lhe que já não quero ser camponesa, quero governar a província, para que todos me ouçam e se inclinem perante mim.
Chegado ao mar, o velho gritou:
_ Peixinho de ouro! Vem cá! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá.
_ Que te aconteceu, bom velho?
_ A minha mulher não me dá sossego e agora quer governar a província.
_ Tem paciência, bom velho. Vai para caa, reza a Deus e tudo será feito.
Ao aproximar-se de casa o velho ficou boquiaberto. Em vez da casa havia um suntuoso solar. Entrou e viu a mulher elegantemente vestida e uma multidão de criados.

_ Olá , mulher, disse o velho.
_ Ó, pobre de pedir! Como ousas chamar-me mulher, a mim que sou a governadora? Guardas, venham cá! Prendam este labrego, levem-no para as cavalariças e dêem-lhe uma sova com quanta força tenham!
Imediatamente os guardas acorreram, agarraram-no e arrastaram-no para as cavalariças, onde o açoitaram.
Depois, a velha pô-lo a fazer de porteiro e mandou que lhe dessem uma vassoura para manter o pátio bem limpo. Triste vida a do velho: trabalhar sem descanso durante todo o dia para uma mulher que já não o considerava seu marido. " Que velha má", pensava ele. "Tanta riqueza lhe dei que lhe subiu à cabeça e já nem sequer me considera seu marido".
Passado algum tempo a velha cansou-se de ser governadora e mandou chamar o velho.
_ Ouve, velho imbecil! Vai ter com o peixinho de ouro e diz-lhe que quero ser czarina.
Cansado, de cabeça caída, o velho regressou ao mar. Tomou fôlego e gritou:
_ Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá!
O peixinho de ouro chegou.
_ Que se passa agora, bom velho?
_ A velha enlouqueceu. Já não quer ser governadora! Quer tornar-se czarina!
_ Não te aflijas, velho. Volta para junto dela, reza a Deus e tudo será feito.
O velho voltou para junto da mulher e, em vez do solar, encontrou um palácio real com cúpulas de ouro.



A toda a volta havia sentinelas de arma ao ombro e, por detrás do castelo, um vasto parque.
A velha, vestida de czarina, surgiu na varanda e passou revista às tropas. Rufavam-se os tambores e ouviam-se marchas.
_ Viva! - gritaram os soldados.
Algum tempo depois a velha cansou-se de ser czarina e mandou chamar o velho. Foi o bom e o bonito para o encontrarem, mas por fim, um guarda descobriu-o no canto mais escuro do jardim. Foi conduzido à presença da czarina.
_ Ouve, velho piolhento! - berrou a soberana - Vai ter com o peixinho de ouro e diz-lhe que estou cansada de ser czarina. Quero ser a imperatriz dos mares, para que todos os peixes me obedeçam.
O velho encheu-se de coragem e mais uma vez foi ter com o peixinho.
_ Peixinho de ouro! Vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para lá!
Mas o peixinho de ouro não veio! O velho chamou-o outra vez: nada! De repente, o mar engrossou e agitou-se. Antes estava claro, límpido, agora completamente turvo. O peixinho veio até à margem.
_ O que foi, velho?
_ A minha mulher está cada vez mais prepotente e caprichosa. Já não quer ser czarina. Quer tornar-se a imperatriz dos mares, para reinar sobre todas as águas e sobre todos os peixes!
O peixinho nada disse. Voltou-se e desapareceu no fundo do mar. O velho voltou para trás e qual não foi o seu espanto ao ver que o palácio, os jardins e os guardas tinham desaparecido! Apenas havia a velha choupana. Entrou na casa e viu a mulher vestida com os velhos trapos. Os dois regressaram à antiga vida...
Desde então o velho voltou a lançar as suas redes, mas nunca, nunca mais voltou a apanhar peixinhos de ouro.
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Dizem que a sorte não aparece duas vezes: o velho perdeu uma ótima chance de trocar de mulher!!!
(nota da autora do blog)

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal esse conto russo, espero poder encontrar o livro algum dia.

Milu disse...

Você poderá encontrar o livro na Estante Virtual:http://www.estantevirtual.com.br/b/mariana-beliayeva-ilustradora/os-mais-belos-contos-da-russia-colecao-grandes-ilustradores-da-esco/2117767220

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