quinta-feira, 8 de abril de 2010

UM POUCO MAIS DE BELLA AKHMADÚLINA

Entre nós, são muito divulgados alguns poetas russos, tais como Borís Pasternak, Anna Akhmatova, Marina Tsvetaieva, Pushkin, Mayakovski, para não me estender muito.
Outros, são completamente desconhecidos, mas nem porisso piores ou de menor valor. Em outro post já tive a oportunidade de colocar um resumo biográfico sobre ela. Agora, continuo apresentando Bella através de suas poesias.


PRELÚDIO AO RESFRIADO

Simples e boa é a vida em liberdade
e com a mente clara: é suficiente
sentir frio nos pés: ajudam muito os passeios de outono pelo parque.

Em outubro, a febre é onipresente
quando baixa, do céu pré-hibernal,
a friagem de asas tão ligeiras
com seu abraço de arcanjo-libélula.

Caminhas entre as árvores e os muros,
de ti mesmo invisível, estrangeiro,
até que Röntgen descobre, em teus brônquios,
tua banalidade nebulosa.

Ainda está sadio, tedioso
mas, já com um sorriso generoso,
o resfriado manda o beijo aéreo
que lentamente cola-se a teus lábios.

Agora estás doente e nada deves
às amizades, festas, procissões.
Celsius confirma, com benevolência,
teu grau especial entre outras gentes.

O teu nariz escorre e, sob o braço,
do mercúrio sentes a comichão
que, depois, pára. E a argêntea exatitude
define a honra que te é devida.

Uma pesada dose de aspirina
a teu espírito desnvoltura
devolve. Essa é a vantagem da doença:
o frêmito malvado da audácia.


SEPARAÇÃO


Hoje nos separamos para sempre
e isso faz o mundo transformar-se.
Tudo nele anuncia a traição:
os rios vão se afastando das margens,
as nuvens vão se afastando do céu,
a mão direita olha para a esquerda
e arrogante diz: "Vou embora, adeus!"

Abril não mais prepara o mês de maio,
mês de maio que nunca mais verás,
e as flores se desfolham, feitas pó.
É a derrota do azul para o amarelo!

Já as últimas flores se esturricam,
comprimento e largura não há mais,
o branco, em estertor, já agoniza,
deixando um arco-íris de orfãzinhas.

A natureza afoga em sua tristeza,
a maré baixa sobre pela margem,
calam-se os sons e isso porque nós,
você e eu, pra sempre nos deixamos

(escrito por Akhmadullina quando se separou de Yevtuchenko)

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