domingo, 22 de dezembro de 2013

Um conto popular russo: "Shemiaka, o juiz



 Este conto é um antigo conto popular russo, do gênero satírico, baseado num personagem real: Shmliaka representa o príncipe Dmitri Shemliaka, grande príncipe de Moscou, morto em 1453) e famoso, na história russa, por sua crueldade, perfídia e  por suas velhacarias e injustiças cometidas. (representação abaixo).
Alegoricamente, este conto representa a injustiça dos julgamentos da época: é a paródia de um julgamento injusto.




Numa certa aldeia viviam dois irmãos, um rico e outro pobre.




O irmão pobre foi procurar o rico para lhe pedir um cavalo emprestado para trazer lenha da floresta. O rico emprestou. O pobre também pediu uma canga, mas o rico achou aquilo um abuso e recusou.

  Então o pobre amarrou seu trenó ao rabo do cavalo, foi para a floresta e cortou uma grande quantidade de madeira para transformar em lenha, uma quantidade tão grande que o cavalo mal conseguia arrastá-la; chegou ao quintal de sua casa e abriu o portão, mas esqueceu-se de tirar a prancha de madeira que ficava na entrada. O cavalo tentou passar pela prancha, mas seu rabo foi arrancado. O irmão pobre levou o animal agora sem rabo de volta par o irmão rico, que se recusou a aceitá-lo e foi fazer queixa contra o pobre a Shemiaka, o juiz. 
 O pobre sabia que estava em maus lençóis, pois não tinha nada para dar ao juiz. Acabrunhado, seguiu o irmão.
 Os dois irmãos chegaram à casa de um camponês rico e pediram permissão para passar a noite ali. O camponês bebeu e divertiu-se com o irmão rico, mas não quis convidar o pobre a sentar-se à mesa. O irmão pobre ficou deitado em cima da lareira olhando para eles.


De repente, caiu dali e esmagou uma criança pequena que estava deitada no berço debaixo dele, e matou-a. O camponês também foi procurar Shemiaka, o juiz, para fazer uma queixa contra o irmão pobre. 
Enquanto se dirigiam à cidade o irmão rico, o camponês e o irmão pobre, que ia atrás deles), aconteceu de atravessarem uma ponte alta. O irmão pobre, pensando que não escaparia com vida de Shemiaka, o juiz, pulou da ponte, na esperança de morrer. Em baixo da ponte, um homem estava levando o pai doente para a casa de banhos; o irmão pobre caiu em cima do trenó e esmagou o doente, matando-o. O filho foi se queixar a Shemiaka, o juiz, afirmando que o pobre matara seu pai. O irmão rico chegou à casa de Shemiaka, o juiz, e fez sua queixa contra o irmão pobre, acuando-o de ter arrancado o rabo de seu cavalo.


 Nesse meio tempo, o irmão pobre tinha arranjado uma pedra e a enrolara no lenço. Estando atrás de seu irmão, pensou:
- "Se o juiz me condenar. vou matá-lo com essa pedra".
Mas o juiz, pensando que o pobre tinha conseguido cem rublos para suborná-lo, ordenou ao rico que desse o cavalo ao pobre para que este cuidasse dele até crescer outro rabo. 

 Então o camponês rico chegou diante do juiz e fez uma queixa a respeito da morte de seu filho. O pobre pegou a mesma pedra e mostrou-a ao juiz. O juiz, pensando que o pobre estava lhe oferecendo mais cem rublos, dessa vez pelo segundo caso, ordenou ao camponês que desse sua mulher ao pobre para que este cuidasse dela até que ela tivesse outro filho, e acrescentou:

- "Depois disso, ele vai devolver sua mulher e a criança".

O terceiro queixoso acusou o pobre de ter esmagado seu pai. O pobre mostrou a mesma pedra ao juiz. O juiz, pensando que o pobre estava lhe oferecendo mais cem rublos, ordenou que o filho do morto fosse até a ponte, e acrescentou:

-"Você, pobre homem, fique de pé embaixo da ponte; e você, filho, pule da ponte e esmague o pobre, matando-o".

Depois disso, Shemiaka, o juiz, mandou um criado procurar o pobre para que este lhe pagasse os trezentos rublos. O pobre mostrou-lhe  a pedra e disse:

- "Se o juiz tivesse me condenado, eu o teria matado com essa pedra".

O criado foi procurar o juiz e disse:

-"Se o senhor o tivesse condenado, ele o teria matado com uma pedra".
O juiz fez o sinal da cruz e disse:
- "Graças a Deus que julguei em seu favor".

O pobre foi procurar o irmão rico para pegar o cavalo, conforme o veredicto, e ficar com ele até crescer outro rabo; mas este preferiu dar ao irmão quinhentos rublos, três medidas de cereais e uma cabra de leite, e fez as pazes com ele.

O pobre foi procurar o camponês e, citando o veredicto, pediu a mulher dele, que devia ficar em sua companhia até ter outro filho. Mas o camponês preferiu dar-lhe quinhentos rublos, uma vaca com o bezerro, uma égua com o potrinho e quatro medidas de cereais, e fez as pazes com ele.


O pobre foi procurar o filho do homem que ele matara e disse-lhe que, de acordo com o veredicto do juiz, ele, o pobbre, devia ficar embaixo da ponte e que o filho devia pular em cima dele e matá-lo. 
O filho pensou:
"Se u pular da ponte, não vou matá-lo, vou é matar a mim mesmo".
E deu ao pobre duzentos rublos, um cavalo, cinco medidas de cereais, e fez as pazes com ele".

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Fontes: 

- Livro Contos de Fadas Russos, vol.3 (Contos reunidos por Aleksandr Afanas'ev) (Editado por Landy Editora) 
-Gravuras retiradas do site www.yandex.ru 

Observação:

* O livro é meio difícil de ser encontrado, mas  está a venda, por R$ 36,00, na saraiva.com.br

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