Os "Diários Íntimos de Lev Tolstoi e Sofia Tolstaia foram editados, no Brasil, em 1943 pela Editora Vecchi. Esta é a edição que tenho e desconheço outra. Não compreendo o desinteresse de nosso mercado editorial por esta obra, essencial para os amantes da literatura russa . Enquanto não surge alguém que a queira reeditar, vou compartilhando pequenos trechos com o amigo do blog.
O trecho escolhido para hoje foi o do dia. 3/10/1910, pouco menos de um mês da morte deste titã e foi extraído do diário de Sofia (veja outros trechos aqui).
Sofia Andreievna
Os dois, Lev e Sofia, viviam, então, a pior crise na história de seu casamento e, neste trecho Sofia, mulher possessiva e de gênio forte, sentiu arrependimento de suas ações ao ver o estado do marido. "Pela manhã Liev Nikoláievitch passeou, depois andou a cavalo durante alguns instantes; de volta a casa, queixou-se de suas pernas entorpecidas de frio e deitou-se sem tirar as botas. Entrei no quarto dele durante nosso almoço e reparei aterrorizada que ele estava divagando e mergulhando no sono. Depois começou qualquer coisa de horrível. Contorções de rosto, caimbras pavorosas nas pernas. Dominou-me o terror, o desespero e o arrependimento. À noite as caimbras cessaram. Passei a noite toda numa cadeira junto a Lev Nikoláievitch. Ele dormia, embora gemesse muito. Durante a noite, minha filha Tania chegou".
Sierguiei Tolstoi (1) escreve, em sua biografia, que neste mesmo dia,
"depois que despimos e deitamos meu pai, minha irmã Sacha(2) retirou seu pequeno Diário do bolso da sua blusa e mo entregou...A 4 de outubro, pela manhã, meu pai despertou inteiramente lúcido, após ter dormido um sono profundo, mas estava muito fraco: perguntou a Sacha onde estava seu pequeno Diário. Sacha disse_lhe que estava comigo e chamou-me. Entreguei o Diário a ele, dizendo:"Não o li".
Tive a alegria de ouvi-lo dizer: "Oh, tu, tu terias podido lê-lo".
A situação, tanto física quanto emocional, do escritor, foi se deteriorando mais e mais e no dia 26 de outubro, Tolstoi escrevia em seu Diário:
"Esta vida me pesa cada vez mais.Maria Aleksandrovna(3) me proíbe de partir e minha consciência também não mo permite. Suportá-la, sem que alguma coisa exterior se transforme, mas trabalhar, ao mesmo tempo, na transformação dos meus sentimentos interiores. Meu Deus, ajuda-me!"
Maria Aleksandrovna havia lhe dito as seguintes palavras, ao ouvir dele suas intenções de se afastar de Iasnaia Poliana:
"Lev Nikolaevitch, meu querido, isto há de passar, é uma fraqueza momentânea."E o conde assentiu:
"Sim, sim, sei que é uma fraqueza, isto há de passar, espero que passe".
Em 31 de Outubro, já em Astapovo, sua última estação, Tolstoi fez a sua última anotação no Diário, à 1 hora e trinta minutos da tarde:
(1)Serguey Tolstoi, filho do casal, responsável pelo"Se quisermos esclarecer pela noção de Deus os fenômenos da vida, não se encontrará nesta noção de Deus e da vida coisa alguma fundamentada e sólida. São raciocínios vãos que a nada conduzem. Só conhecemos Deus adquirindo consciência de sua manifestação em nós mesmos.Todas as decisões de nossa consciência e a direção da vida que nela se baseia dão sempre plena satisfação ao homem, tanto para conhecimento do próprio Deus, quanto para a direção da vida fundada sobre esta consciência"._____________________________________________________
prefácio aos Jornais de Sofia Andreevna. Foi músico.
(2)Aleksandra Tolstaia, filha caçula do escritor, falecida em 1979, aos 95 anos. Era ela quem redigia os manustritos do pai.Fotos dela a seguir:
Sacha é a pequenina perto do pai
No fim da vida
(3)Filha mais velha do poeta Aleksandr Puchkin e grande amiga de Tolstoi, retratada, a seguir, na juventude. Na época em que Tolstoi escreveu seus diários, Maria já era uma senhora idosa.
3 comentários:
Pelo pouco (bem pouco) que conheço desse caso, não sei o que devia ser pior: ele viver com ela, ou ela viver com ele. Porque esse cara também não deve ter sido muito fácil.
Pois é, ela tinha o gênio muito mais difícil do que o dele. Ela era autoritária e ele obedecia e, com isto, sofria. Lógico que não foi santo. Na história dos dois teve de tudo, inclusive muito amor entre ambos e traição. Beijos
Sofia foi uma mulher inteligente, prática, intelectual e co-autora dos livros de Lev. Teve muitas crises por ter de suportar um marido adúltero, 13 partos, criar e administrar tudo sozinha. Lev Tolstói era um homem criativo, contraditório e voltado para suas cismas intelectuais e mentais. Permitiu-se ser explorado por Therckov e outros parasitas e Sofia nada podia fazer. Era uma luta entre o bom senso (Sofia) e o desvario completo(Tolstói). Não espanta que ela desenvolveu doenças mentais.
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