quarta-feira, 26 de outubro de 2011

TRÊS DIAS NA VIDA DE TOLSTOI


Os "Diários Íntimos de Lev Tolstoi e Sofia Tolstaia  foram editados, no Brasil, em 1943 pela Editora Vecchi. Esta é a edição que tenho e desconheço outra. Não compreendo  o desinteresse de nosso mercado editorial por esta obra, essencial para os amantes da literatura russa . Enquanto não surge alguém que a queira reeditar, vou compartilhando pequenos trechos com o amigo do blog. 

O trecho escolhido para hoje foi o do dia. 3/10/1910, pouco menos de um mês da morte deste titã e foi extraído do diário de Sofia (veja outros trechos aqui).
 Sofia Andreievna
Os dois, Lev e Sofia, viviam, então, a pior crise na história de seu casamento e, neste trecho Sofia, mulher possessiva e de gênio forte, sentiu arrependimento de suas ações ao ver o estado do marido.
 "Pela manhã Liev Nikoláievitch  passeou, depois andou a cavalo durante alguns instantes; de volta a casa, queixou-se de suas pernas entorpecidas de frio e deitou-se sem tirar as botas. Entrei no quarto dele durante nosso almoço e reparei aterrorizada que ele estava divagando e mergulhando no sono. Depois começou qualquer coisa de horrível. Contorções de rosto, caimbras pavorosas nas pernas. Dominou-me o terror, o desespero e o arrependimento. À noite as caimbras cessaram. Passei a noite toda numa cadeira junto a Lev Nikoláievitch. Ele dormia, embora gemesse muito. Durante a noite, minha filha Tania chegou".
Sierguiei Tolstoi (1) escreve, em sua biografia, que neste mesmo dia,
"depois que despimos e deitamos meu pai, minha irmã Sacha(2) retirou seu pequeno Diário do bolso da sua blusa e mo entregou...A 4 de outubro, pela manhã, meu pai despertou inteiramente lúcido, após ter dormido um sono profundo, mas estava muito fraco: perguntou a Sacha onde estava seu pequeno Diário. Sacha disse_lhe que estava comigo e chamou-me. Entreguei o Diário a ele, dizendo:"Não o li".
Tive a alegria de ouvi-lo dizer: "Oh, tu, tu terias podido lê-lo".
A situação, tanto física quanto emocional, do escritor, foi se deteriorando mais e mais e no dia 26 de outubro, Tolstoi escrevia em seu Diário:
"Esta vida me pesa cada vez mais.Maria Aleksandrovna(3) me proíbe de partir e minha consciência também não mo permite. Suportá-la, sem que alguma coisa exterior se transforme, mas trabalhar, ao mesmo tempo, na transformação dos meus sentimentos interiores. Meu Deus, ajuda-me!"
Maria Aleksandrovna havia lhe dito as seguintes palavras, ao ouvir dele suas intenções de se afastar de Iasnaia Poliana:
"Lev Nikolaevitch, meu querido, isto há de passar, é uma fraqueza momentânea."E o conde assentiu:
"Sim, sim, sei que é uma fraqueza, isto há de passar, espero que passe".
Em 31 de Outubro, já em Astapovo, sua última estação, Tolstoi fez a sua última anotação no Diário, à 1 hora e trinta minutos da tarde:
"Se quisermos esclarecer pela noção de Deus os fenômenos da vida, não se encontrará nesta noção de Deus e da vida coisa alguma fundamentada e sólida. São raciocínios vãos que a nada conduzem. Só conhecemos Deus adquirindo consciência de sua manifestação em nós mesmos.Todas as decisões de nossa consciência e a direção da vida que nela se baseia dão sempre plena satisfação ao homem, tanto para conhecimento do próprio Deus, quanto para a direção da vida fundada sobre esta consciência".
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(1)Serguey Tolstoi, filho do casal, responsável pelo
prefácio aos Jornais de Sofia Andreevna. Foi músico.

(2)Aleksandra Tolstaia, filha caçula do escritor, falecida em 1979, aos 95 anos. Era ela quem redigia os manustritos do pai.Fotos dela a seguir:
Sacha é a pequenina perto do pai
No fim da vida
(3)Filha mais velha do poeta Aleksandr Puchkin e grande amiga de Tolstoi, retratada, a seguir, na juventude. Na época em que Tolstoi escreveu seus diários, Maria já era uma senhora idosa.

3 comentários:

aveloh disse...

Pelo pouco (bem pouco) que conheço desse caso, não sei o que devia ser pior: ele viver com ela, ou ela viver com ele. Porque esse cara também não deve ter sido muito fácil.

Milu disse...

Pois é, ela tinha o gênio muito mais difícil do que o dele. Ela era autoritária e ele obedecia e, com isto, sofria. Lógico que não foi santo. Na história dos dois teve de tudo, inclusive muito amor entre ambos e traição. Beijos

Anônimo disse...

Sofia foi uma mulher inteligente, prática, intelectual e co-autora dos livros de Lev. Teve muitas crises por ter de suportar um marido adúltero, 13 partos, criar e administrar tudo sozinha. Lev Tolstói era um homem criativo, contraditório e voltado para suas cismas intelectuais e mentais. Permitiu-se ser explorado por Therckov e outros parasitas e Sofia nada podia fazer. Era uma luta entre o bom senso (Sofia) e o desvario completo(Tolstói). Não espanta que ela desenvolveu doenças mentais.

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