quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A MÚSICA DE UMA VIDA - ANDREI MAKINE

Este livro é considerado "romance francês" de autor russo apenas pelo fato de ter sido, originalmente, escrito em francês. Mas nele o leitor não reconhecerá nada da França, nem influências, nem ambiente, enfim, o romance exala a Rússia por todos os poros, sob a visão de alguém que preteriu seu país...
O livro é um lamento profundo sobre a situação da União Soviética de Stalin, em todos os seus aspectos. Adorei a narrativa, as imagens literárias utilizadas pelo autor, mas discordo do que ele chama, pejorativamente, de "homo sovieticus", expressão que, segundo Makine,

"abarca aquela estagnação humana, até o seu mais ínfimo suspiro". 
Concordo com as críticas que ele possa fazer a nível de regime, de stalinismo, em termos de desrespeito de direitos humanos, do terror implantado na década de 30, mas jamais de estagnação do povo soviético. Conheço muitos soviéticos que, com orgulho para mim, fazem parte do meu rol de grandes amigos: todos me encantam com sua cultura, seu conhecimento, seu discernimento e sua bondade. Se houve uma coisa que o regime ofereceu ao povo soviético foi educação da melhor qualidade. Assim sendo, senti que a expressão "homo sovieticus" soou preconceituosa e inverdadeira.Claro que tem pessoas, como em todos os lugares, que são estagnadas e possuem defeitos mil, mas se não cabe, da minha parte, generalizar que "todo o povo soviético era bom", tão pouco cabe a todos a citada expressão...
Desabafo feito, passamos à sinopse do livro: trata-se da 
"história de Aleksei Berg, um jovem e promissor pianista na União Soviética de Stalin, que se torna um inimigo da pátria simplesmente porque amigos da sua família caíram em desgraça. Incapaz de driblar a polícia política, Berg foge às vésperas de seu primeiro concerto e assume a identidade de um soldado morto em batalha, para combater, ao lado do exército russo, a invasão alemã durante a segunda guerra mundial.Narradas pelo próprio personagem, ex- perseguido, ex-pianista, ex-soldado, ex-herói, por fim, ex-preso, as vidas de Berg irrompem em etapas, como melodias que primeiro se apresentam e depois reaparecem, em variações cada vez mais complexas(...). Ao voltar a Moscou, entretanto, não consegue voltar à sua juventude promissora, e na verdade não retorna à nada: conforma-se em chegar à cidade da vida que poderia ter sido sua, mas que não foi.É nessa cidade que reaparece o amor pela música, que o ajudou a atravessar tantas vidas".
Makine saiu da Rússia aos 29 anos,se radicando em Paris. Passou a ser um "émigré" já no final do regime, em 1987, adotando a França e sendo por ela adotado (em russo, seu nome é Makin e não Makine), deixando seu idioma, sua pátria e sua cidade natal, a linda  Krasnoyarsk, para trás...Não descende de franceses, conforme, muitas vezes, publicam. Em entrevista, ele mesmo afirmou ter aprendido francês com um amigo.Também publica sob o nome de Gabriel Osmonde. Jogada de marketing? A solução do mistério "quem é Osmonde" durou 10 anos, só tendo sido descoberto que era Makin em 2011.

Editora: Cia das Letras
Nº de páginas: 90
Preço: em torno de R$ 35,00

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