quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

RESENHA: VERÃO EM BADENBADEN (LEONID TSÍPKIN)

Leonid Tsípkin não era russo: era natural de Minsk, Bielorrússia; no entanto, sua obra é considerada literatura russa, uma vez que ele a escreveu neste idioma, que é, ao lado do bielorurusso, o idioma oficial do país, que já integrou o Império Russo e a URSS (atualmente, a Bielorrússia integra a CEI - Comunidade dos Estados Independentes).

Voltemos ao livro, misto de autobiografia e ficção, que narra a história de um médico apaixonado por literatura e que escrevia apenas para si. Admirador devoto do grande mestre russo da literatura, ele procura reconstruir os caminhos percorridos por Dostoievski, tanto na sua vida, quanto na sua obra, num misto de ficção e realidade.

Em 1987, Dostoievski passou a primavera viajando pela Alemanha, acompanhado de sua segunda esposa ,Anna Grigorievna e é este o período que Leonid Tsípkin reconstrói, centrando-se na estadia do casal em Baden-Baden. Dostoievski dissipa nas roletas do cassino as últimas posses de Anna.

Ao relatar a vida de Dostoievski, com base no diário de Anna Grigorievna, Tsípkin vai evocando, também, lances de sua própria saga pessoal em busca dos locais "dostoievskanos" de São Petersburgo, enfatizando facetas já conhecidas do famoso escritor, tipo seu vício no jogo, sua eplepsia, sem perder de vista a perspectiva dos pontos de vista de Anna Grigorievna, apresentando seus sentimentos em relação a Dostoievski e algumas de suas lembranças, como por exemplo, a do dia em que ela viu seu futuro marido pela primeira vez e do dia de sua morte.São relatadas, inclusive, cenas de família, discussões do casal,surgindo diante de nós um Dostoievski quase vivo . Já li várias biografias deste grande escritor, inclusive a coleção de Joseph Frank, mas nada se compara à leitura desta obra, em particular, no tocante às impressões causadas.

A gente , principalmente quem, como eu, é fascinado por Dostoievski, sente cada emoção descrita. Emoção maior, ainda, senti, ao mergulhar, enquanto percorria suas páginas, na realidade da vida russa. É fascinante, leitura super recomendada. A edição é da Companhia das Letras, tradução direta do russo (por Fátima Bianchi), o que faz toda a diferença.Com 208 páginas.

Susan sontag, responsável pelo ensaio introdutório da edição da Cia.das Letras, diz que Verão em Baden-Baden está entre
"as realizações mais belas, arrebatadoras e originais de um século de ficção e paraficção"..."O leitor emerge deste livro purgado, comovido, fortalecido, respirando um pouco mais fundo, agradecido à literatura por aquilo que ela pode abrigar e exemplificar".
Tsípikin foi completando, ao longo dos anos, albuns com fotos dos lugares frequentados ou associados de alguma maneira a Dostoievski, o que lhe serviu, também, de fonte de pesquisa na elaboração deste livro.

Nota: o autor, nascido em 1926, faleceu em 1981, exatamente no dia em que completava 56 anos. Não chegou a ver este livro publicado.Nasceu em uma família judia, filho de médico.Toda a família paterna morreu em um gueto em Minsk; sua mãe era de família polonesa.No início da Segunda Grande Guerra, foi possível à toda a família partir para Ufa, na Rússia, onde Leonid ingressou no Instituto de Estudos de Medicina, se casou com a economista Natalia Iossifovne Mitchnikova e começou a trabalhar com Anatomia Patológica, mais tarde com Imunologia e Virologia, desenvolvendo, durante anos, trabalhos científicos, com vários trabalhos publicados.
Paralelo a este trabalho, escrevia versos e prosa, desde os anos 60.

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