segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

MEMÓRIAS DE KRUCHTCHEV: AS FITAS DA GLASNOST- MAIS UM TRECHO

Há tempos atrás postei um trecho do livro de Nikita Khurchtchev(*), intitulado "Memórias de Khurchtchov - as fitas da Glasnost. Editado pela Siciliano em 1991, um livro difícil de ser encontrado, mas fundamental para quem quer conhecer um pouco mais da história da URSS.

Escrito no auge da desestalinização promovida por Khurchtchev, ele mostra algumas curiosidades no mínimo interessantes, apesar de eu não poder afirmar a autenticidade dos relatos. Digo e explico o porquê.


Não posso afirmar que acredito na veracidade de tudo o que está escrito nele, por uma razão muito simples: o material deixado pelo ex Primeiro Sercretário do Comitê Central do Partido Comunista, Nikita Khurchtchev, declarações gravadas em fitas cassete, veio a tona pelas mãos de Jerrold Schecter, antigo chefe dos escritórios da revista americana Times em Moscou , junto a um grupo comprometido com a publicação do material, formado por gente da Life, Time Inc, entre outros. Tendo em vista que o período era de guerra fria e muitos, tanto na Rússia, quanto no Ocidente, acharam o livro uma manipulação. A KGB chegou a dizer que ele foi escrito na "cozinha da CIA". Talbott, que preferiu manter a identidade as pessoas que lhe repassaram o material no anonimato, afirma que, durante décadas, pairou sobre a publicação das fitas muita desconfiança a respeito de sua veracidade, desconfiança esta que só foi resolvida pela confirmação do filho de Khurchtchev, Serguiey (que, curiosamente, era na época, um respeitado professor universitário nos EUA...), a respeito das fitas, em seu livro "Khruchtchev por Khruchtchev" .Foi o fim das polêmicas. As fitas, segundo Talbott, também possuem um certificado de autenticidade emitido por peritos que analisaram a voz delas constantes e concluíram ser do ex líder soviético.
No entento, eu - mera curiosa e amante da história daquelas bandas, continuo com minhas desconfianças. Ando procurando na rede se Talbott tinha alguma ligação com a CIA. Procurei muito pela internet e só encontrei uma referência a seu respeito, no endereço a seguir: ao que parece ele iniciou sua carreira na Cia, o que - para mim, tira bastante a credibilidade do livro. Mas gosto sempre de ler mais de uma versão da história. Assim, a leitura deste livro ainda me foi válida para o exercício da reflexão e do raciocínio, bem como para não ficar presa apenas às que li escritas por russos ou soviéticos.
http://www.stewwebb.comTalbott e a Cia


MD


lvro dde Serguiey Khruchtchev

O post inicial desta série foi sobre o suicídio da esposa de Stalin, mais precisamente sobre o que Khruchtchev soube a respeito (ele pertencia ao reduzido grupo de íntimos de Stalin). O post de hoje trata sobre as origens das fitas, de acordo com seu próprio autor, Nikita Khruchtchev.

"De há muito meus camaradas me aconselham e, até recomendam com insistência, que eu escreva aquilo de que me lembre. Minha geração viveu um período sumamente interessante: revolução, guerra civil, transição do capitalismo para o cosicalismo, Grande Guerra Patriótica, desenvolvimento e fortalecimento do sistema socialista - uma época inteira, completa. Foi meu destino tomar parte nesses anos que muitos não compreendem. É natural. Nem eu mesmo compreendo tudo.

Simpatizo com a preocupação dos camaradas que insistem assim comigo para que redija minhas memórias. Em algum momento, depois que muito tempo passar, toda palavra proferida por nós que vivemos no nosso período será um guia de valor inapreciável para os que nos sucederem. Sinto-me deveras afortunado por ter percorrido o caminho que percorri, e por ter participado da reconstrução (perestroika)
(**) social e política de nosso país.

Tive sorte. Tomei parte no processo, desde a mais pequena célula da nossa organização partidária até o mais alto nível- o Comitê Central e o Politiburo, os cargos de presidente do Conselho de Mnistros, de primeiro-secretário do Comitê Central e de membro do Presidium do Soviete Supremo da URSS.


Minha carreira foi de grande dificuldade e de grande responsabilidade também. Tive a oportunidade de participar da busca de soluções para muitos problemas e, depois, na implementação dessas soluções. É por isso que sinto ser meu dever dar minha opinião e a minha interpretação do que aconteceu. Sei, logo de inicio, que nenhuma opinião pode agradar a todos. Nem é esse meu objetivo. Quero que meu ponto de vista sobreviva e seja conhecido, ao lado do ponto de vista dos demais, para que sejam registrados e constituam como que o legado de nossa geração. Somos gente de um mesmo corpo - o Partido, o Politiburo, o Presidium do Soviete Supremo, o Comitê Central, o Conselho de Ministros. Embora nossas opiniões coincidam em algumas questões, em outras seguramente irão diferir. O que é apenas normal. É assim que sempre foi e que sempre será. A verdade nasce da divergência. Memso no interior do mesmo partido, entre pessoas que têm a mesma posição e o mesmo princípio - o do marxismo-leninismo - há maneiras diferentes de ver as coisas, diferentes interpretações e nuanças na solução de um problema. Os tempos, muitas vezes, exigem uma abordagem flexível. Sei que temos diferenças de opinião, até mesmo opiniões opostas. Como um político aposentado, vejo isso claramente, hoje que tenho tempo para ficar sentado observando o mundo. Isso não me preocupa. Confio naqueles que irão me julgar. Porque serei julgado pelo povo, que vai ler e ponderar este material e tirar dele suas próprias conclusões. Não sugiro e não creio que o que tenho a dizer seja a verdade definitiva. Absolutamente. Que cada um forme a sua opinião, comparando e sopesando as diferentes maneiras de ver determinada questão. Isso é tudo o que desejo. Só um louco acredita que todos são feitos no mesmo molde e que tudo o que não se conforme a esse molde deve ser considerado herético ou,pior, criminoso. Não. Que a história funcione como juíz. Que o povo decida.(...) (...)Vou ditar minhas memórias sem acesso a material de arquivo. Seria difícil para mim faze-lo. Na minha situação, esse material não está disponível. (...) Os fatos podem ser encontrados nas minutas e protocolos das reuniões(...). Agora os arquivos estão fechados.(...) Depois da morte de Stalin, quando já tínhamos alguma distância do período de sua liderança, descobrimos aqueles arquivos do partido até então desconhecidos por nós. Foi então que perdemos a fé que tínhamos em Stalin. Quando estava no poder, tudo o que era feito por ele ou por ordem dele nos parecia inabalavelmente e singularmente correto. só depois que ele morreu começamos a pensar criticamente no passado e, tanto quanto possível, a conferir aquilo que nos lembrávamos com o que estava registrado nos arquivos.



Após estes parágrafos, Nikita tece linhas autobiográficas, a respeito de seus avós, seus pai - Serguiey e Aksinia, sua infância, até seu contato com o marxismo e sua entrada para o rol dos blocheviques, sua entrada para o Exército Vermelho até o XX Congresso do Partido Comunista, já o segundo capítulo do livro. Mas isto fica para uma próxima vez.
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Crédito da foto acima:www.savok.org


(*) lê-se (*)KhruchtchOv
(**) Aqui ele não se refere ao famoso processo iniciado por Gorbatchev, mas à abertura tentada por ele.

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