Quando cheguei pela primeira vez a São Petersburgo, me senti dentro do livro: realmente, a cidade tem um quê de mágico, mistura da realidade e sonho, algo de absurdo e de concreto, que te prende nas malhas de seus muitos encantos. Ela já nasceu surrealista, desafiando a Natureza, reunindo em si mortes e tragédias demoníacas, ao lado de uma beleza de inspiração quase que celestial.
Biéli consegue retratar tudo isto com maestria, num esquema meio que gogoliano.
A obra não deixa de ser um significativo ataque à capital.
Antes de Biéli, outros já haviam atacado a então Petrogrado, especialmente Gógol e Dostoievski, ídolos dos simbolistas, categoria na qual Biéli se enquadra. Dostoievski, o grande mestre, havia já concluído que a cidade estava condenada à destruição.Biéli, um moscovita e eslavófilo, seguiu a tradição de Gógol e Dostoievski, no que diz respeito aos ataques à capital russa de então.
Como uma coisa sempre leva à outra, aconselho ao leitor deste post que leia o fantástico livro "São Petersburgo, Uma História Cultural", de Solomon Volkov", onde - entre outras páginas, nas de número.231 a 234, existe uma análise pra lá de interessante do livro de Andrei Biéli, inclusive relacionando-o a uma visão mística do autor, que seguia as idéias de Rudolf Steiner, da Antroposofia. Vale a pena ler, pela riqueza do conteúdo da análise, que não caberia no reduzido espaço deste post.
Biéli foi criticado por alguns conterrâneos ilustres, tipo Blok, Bunin e Akhmátova, ferrenhos defensores de sua terra natal. Esta última, grande poeta peterburguense, costumava dizer que a
"novela Petersburgo, para nós que nascemos lá,é muito diferente da Petersburgo real". Já Bunin, irritado, rejeitou esta obra, dizendo:
"Mas que vil idéia tem este livro: Petersburgo ficará vazia. O que Petersburgo fez a ele?"Mas não foram só críticas que outros grandes escritores russos dirigiram: esta obra monumental e inquestionável: ela foi considerada por Nabakov como equivalente de À la recherche du temps perdu (à procura do tempo perdido), de Marcel Proust, Ulysses, de Joyce e Metamorfose, de Kafka.
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