O conto de hoje é de autoria de Mikhail Zoschenko, um escritor satírico, nascido em Poltava, Ucrânia e viveu no Império Russo entre os anos de 1895 e 1958. Apesar de ucraniano, esteve sempre ligado à cultura peterburguense, já que passou grande parte de sua vida em São Petersburgo.
Seus contos são curtos e seu estilo satírico, zombando de vários aspectos sociais, o fez muito admirado na URSS nas décadas de 20 e 30. Em plena NEP (Nova Política Econômica), em 1922, publicou um livro de contos, que fez um enorme sucesso. Na década de 30 publicou romances , e na década seguinte, em 1943, uma autobiografia, intitulada "Antes do Amanhecer".Durante os expurgos de Stalin, suas obras foram banidas do país, só voltando a ser editadas em 1956.Seu nome está associado ao grupo literário conhecido como "Irmãos Serapião". Se, por um lado, muitos gostam dele na Rússia e nas antigas repúblicas, existe, por outro lado, uma crítica a ele feita, no sentido de querer apresentar o homem soviético como estúpido e atrasado. Estas críticas podem ser lidas no site:
http://www.marxists.org/portugues/zhdanov/ano/mes/tarefas.htmDe minha parte, gostei do que já li deste escritor. Confesso que não li muita coisa, ainda: apenas este conto e o conto "A Crise", incluso na coletânea Nova Antologia do Conto Russo (Ed.34).Gostei de ambos, ficando a vontade de conhecer outros contos dele e, se achar, algum romance seu.
Tradução: M.Duarte
O trem de Lígovo nunca viaja muito rápido. Ou ali o caminho não permite, ou foram instalados muitos semáforos, acima do padrão, isto eu não sei. Todavia, a marcha do trem é demasiadamente lenta.Francamente, é até ultrajante. E, é lógico, numa tal marcha fica terrivelmente enfadonho dentro do vagão. Falemos com franqueza: não há o que fazer.Olhar o público, com certeza, é de pouco interesse.Ainda se ofendem: "Porque está olhando? - dizem.-"Me conhece?". Também se ocupar com seus negócios nem sempre é possível. Ler, por exemplo, é impossível.As lâmpadas são particularmente mortiças.E colocadas excessivamente alto. Com franqueza, iluminam como brasas acesas no alto, sem qualquer alegria. Mas a propósito das lâmpadas, isto foi dito a toa. Esta historia divertida se passou de dia. Apesar de também de dia viajar ser aborrecido.
Eis assim, num sábado de dia, no vagão pde passageiros não fumantes, viajava Feklusha, Fiokla Timoféievna Razuváieva. Ela viajava de Lígovo(1) a Leningrado atrás de mercadorias.Ela vende maçãs e sementes na estação em Lígovo. Assim, eis que esta mesma Fioklusha foi a Schukin. Ao mercado de Schukin.Ela tinha vontade de adquirir uma caixa de maçãs refugadas.Entrou em Lígovo, se sentou junto a janela e partiu. Viaja e viaja. Em frente a ela vai Fiódorov, Nikita. A seu lado, é lógico, Anna Ivánovna Blíudetchkina - servidora da seguridade social. Todos de Lígovo. A caminho do trabalho. Porém, pouco depois de Lígovo, ainda outro passageiro entrou. Um militar. Ou semelhante a isto,numa palavra, com botas longas.
Ele, até então, caminhava pela plataforma. E se sentou lado a lado com Fiokla Timofeievna Razubaeva. Sentou-se a seu lado e seguiu viagem.
Fiokla Timofeievna,que ela tenha completa saúde e bem-estar, desamarrou o lenço e, uma vez desamarrado, ficou livre a refletir sobre temas comerciais, tipo quantas maçãs poderia colocar em uma caixa e assim por diante. Depois olhou pela janela. E depois, por completo tédio, pôs-se Fiokla Timofeievna a dormitar.
Seja ou não elo calor de seu vagão, peço desculpas, ou foram as entediantes paisagens da natureza que nela agiram,mas a doce ficou que só vendo. Fiokla Timofeievna simplesmente começou a dar cabeçadas.E bocejou. Bocejou a primeira vez e tudo bem. A segunda vez bocejou tão amplamente, que até se podia contar todos seus dentes. A terceira vez bocejou ainda com mais entusiasmo. Então o militar que estava sentado a seu lado pegou e, cordialmente, enfiou o dedo em sua boca. Gracejou. Bem, isto acontece frequentemente : uma pessoa boceja e se lhe metem o dedo na boca.Entretanto, é óbvio, isto acontece entre, digamos, verdadeiros amigos, entre conhecidos há tempos ou entre parentes do lado da esposa. Mas este homem era completamente desconhecido. Fiokla Timoveievna o vê pela primeira vez. Por esta razão Fiokla Timofeievna, obviamente, se assustou. E, de susto, depressa fechou bruscamente sua mala. E, com isso, apertou bem forte com os dentes o dedo do militar. Neste ponto o militar começou a gritar terrivelmente. Começou a gritar e a injuriar. Diz que quase deceparam seu dedo completamente.Tanto mais que o dedo não deceparam por completo, mas simplesmente lhe cravaram um pouco os dentes. E sangue quase não havia - não mais do que meio copo.Começou uma leve altercação. O militar fala:
_ Bem, eu apenas brinquei. Se ao menos eu tivesse agarrado sua língua, diz ele, ou algo do gênero, então me morda, mas, neste caso, não concordo.Eu sou um militar, diz, e não posso autorizar que passageiros me mordam os dedos. Não me louvarão por isso.
Fiokla Timofeievna replica:
Oh!, se você me tivesse pegado pela língua eu lhe teria decepado a mão inteira. Eu não gosto quando pegam minha língua.
Neste momento, Fiokla Timofeievna começa a cuspir no chão, dizendo que talvez aquele dedo , sabe-se lá que sujo está e sabe-se la o que pegou. É impossível imaginar estas coisas, é anti-higiênico.
Neste ponto a discussão deles foi interrompida. Chegaram a Leningrado. Fiokla Timofeievna ainda ladrou ligeiramente com seu militar e partiu para Shukin.
Um comentário:
Olá!
Venho por esse e-mail para informá-lo sobre o meu mais novo livro "O escritor" que saiu como notícia no site do Jornal Grande Bahia, confira: http://www.jornalgrandebahia.com.br/2012/06/o-escritor-e-a-mais-nova-obra-do-jovem-escritor-marcelo-vinicius.html
Confira a entrevista que saiu comigo no site do Mais Bahia: http://www.maisbahia.com.br/EntrevistaVIP.aspx?id=1371
Confira também um filme de divulgação do meu livro "O escritor". Confira aqui: http://videolog.tv/video.php?id=799829
Abraço e desde já, agradeço pela atenção
Marcelo Vinicius
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