Maravilha de lançamento do final de 2011 da Editora 34: Nova Antologia do Conto Russo. O livro engloba a produção feita no período de 1792 a 1998. São 40 autores, muitos deles pouco ou nada conhecidos no Brasil. O organizador da obra é Bruno Barreto Gomide, professor da USP. Todos os contos foram traduzidos diretamente do russo, como já é prática desta excelente editora. O "time" de tradutores é de primeira: só para citar alguns, tem-se a Arlete Cavalieri, Aurora Bernardini e Boris Schnaiderman. Os amantes da literatura russa sabem o peso destes nomes.
São 40 obras, em sua maior parte inéditas por aqui, apresentando o rico panorama da literatura russa ao longo da história, que provam que
"na arte do conto, tanto em número como em qualidade - e abarcando uma diversidade de tons e temas -, os russos são igualmente magistrais".
- Nikolai Karamzin (Pobre Liza) (1792)
- Aleksandr Puchkin (Viagem a Arzrum (1836)
- Nikolai Gógol (A carruagem) (1836)
- Vládimir Odóievski (A Sílfide) (1837)
- Mikhail Liérmontov (Taman) (1840)
- Fiodor Dostoevski (Polzunkov) (1848)
- Ivan Turguêniev (Relíquia Viva( 1852)
- Vsiévolod Gárchin (Quatro dias) (1877)
- Nikolai Leskov (Viagem de um niilista (1882)
- Mikhail Saltikov-Schedrin (Contos do Major Gorbiliov)(primeira noite) (1884)
- Vladímir Korolenko (O sonho de Makar) (1885)
- Aleksandr Kuprin (O inquérito)(1894)
- Anton Tchekhov (Ariadne)(1895)
- Fiodor Slogub (Luz e Sombras) (1896)
- Leonid Andrêiev (O Abismo) (1902)
- Lev Tolstoi (Depois do Baile (1903)
- Arkadi Aviértchenko (Um dia humano)(1910)
- Maksim Gorki(Vedertta) (1911)
- Velimir Khliébnikov (Dia de Páscoa) (1911)
- Nadiéjda Téffi (Tempo do Cão)(1911)
- Boris Pasternak (Cartas de Tula) (1918)
- Ievguêni Zmiátin (A Caverna)(1920)
- Aleksandr Grin (O caça ratos) (1924)
- Ivan Búnin (Insolação) (1925)
- Mikhail Zóshenko (A crise) (1925)
- Valentin Katáiev(O vadio Eduard) (1925)
- Iuri Oliécha (Liompa) (1928)
- Andrei Platónov (Makar, o duvidador) (1929)
- Isaac Bábel (Guy de Maupassant ) (1932)
- Ilf e Petrov (Como o Robinson foi criado) (1933)
- Vladímir Nabákov (Primavera em Fialta) (1936)
- Daniil Kharms (Conexão) (1937)
- Konstantin Paustóvski (Neve) (1943)
- Aleksei Riémizov (Às avessas) (1952)
- Varlam Chalámov (Xerez) (1958)
- Vassili Chukchin (Dá-lhe coração) (1973)
- Tatiana Tolstaia (noite) (1988)
- Liudmila Petruchévskaya (A dama dos cachorros) (1990)
- Serguei Dovlátov (Na rua e em casa) (1995)
- Vládimir Sorókin (Um mês em Dachau) (1998)
É muito difícil julgar o melhor conto da seleção.Alguns dos autores eu já conhecia e era fã de carteirinha, de outras obras, como o magnífico Andrêiev. Adorei seu conto "O Abismo", desta publicação.Repleto de transbordante sentimento, indo até a loucura, marca registrada do autor de tantos contos com fundos psicológicos e seus personagens marcados pela tragédia e infelicidade, que inspiram pronta compaixão. Como em muitos de seus outros trabalhos, neste predomina o lado mais brutal e cruel da vida humana.
Outro conto que me deslumbrou foi "Quatro Dias", de Vsiévolod Gárchin, que trata dos horrores da Guerra contra os turcos, pela libertação da Bulgária. Este conto me marcou com muita intensidade, talvez pelo tema, talvez pela semelhança com alguns trabalhos de Tolstoi.
Pobre Liza, de Karamzin, também posso apontar como um dos meus favoritos. Conto singelo, tocante.
Não vou falar o óbvio, ou seja, sobre os cânones tipo Tolstoi e Dostoievski. O de Tolstoi (Depois do Baile) eu já havia lido. Excelente. O de Dostoievski, Polzunkov, é fantástico. É da fase inicial da carreira do autor. Acredito que este conto nunca tenha saído em nenhuma coletânea no Brasil. Em Polzunkov Dostoievski enfoca o lado psicológico do personagem, enfatizando a dignidade humana, o respeito e o perdão.
Viagem a Azrum, de Puchkin, é - para mim, um dos pontos altos do livro. Último trabalho em prosa de Puchkin, foi feito com base em notas de uma viagem ao Cáucaso, apesar de, no transcurso do trabalho, ele ter alterado muito as anotações, até chegar a um misto de ficção e memória.
Por fim, umas poucas palavras sobre "O Caça Ratos", de Aleksandr Garin, outro conto que me prendeu do início ao fim de sua leitura. Nele tem algo do surrealismo de Gógol ao narrar São Petersburgo, na época ainda Petrogrado.Este conto integra a mitologia desta que é a minha cidade mais querida e que é apresentada por ele como algo fantasmagórico. Esta imagem da cidade irritava Anna Akhmatova, peterburguense apaixonada, que criticou, não raras vezes, a desconstrução que Gógol fazia da cidade.
Páro por aqui.Aconselho o amigo do blog a adquirir o livro, antes que esgote as vendas.
São quase 650 páginas, a um preço de 74,00 reais, muito bem empregados.
Um comentário:
acabei de ler o caça-ratos e não entendi nada, muito surreal. Vim procurar uma explicação na internet porém não há.
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