sexta-feira, 28 de outubro de 2011

NIKOLAI BERDIÁEV : UM PEQUENO TRECHO - PARTE 1


 Nikolai Berdiáev foi um  filósofo russo-ucraniano,  nascido em Kiev, no seio do Império Russo. Veio ao mundo  numa família militar aristocrata, tendo lido, na infância, toda a biblioteca de seu pai. Leu Hegel, Schopenhauer e Kant com apenas 14 anos de idade.Em  1984 ingressou na Universidade de Kiev, passando a viver num ambiente revolucionário e intelectual, tornando-se Maxista. Em 1898 foi preso em uma manifestação estudantil e expulso da universidade. Mais tarde, o seu envolvimento em atividades ilegais  o levou a três anos de exílio na região central da Rússia, uma sentença leve se comparada com o que foi infligido a muitos outros revolucionários. 
Em 1904 se muda para a então capital do Império, São Petersburgo, onde participa ativamente da vida intelectual e política, chamando a atenção por seu marxismo radical.
Teria tido um exílio perpétuo na Sibéria - pasmem - por críticas à Igreja Ortodoxa (ele era um Ortodoxo), tendo sido acusado de blasfêmia e a punição só não prevaleceu devido à 1ª Guerra e à Guerra Civil. Berdiáev não aceitou o Bolchevismo, pois a supressão das liberdades individuais iam contra seus pensamentos. Foi expulso da URSS em 1922, passando a produzir, então, boa parte de sua obra no exterior. Isto justifica o fato de ele ser mais conhecido fora da Rússia do que lá.Ele é considerado, também, um dos pricipais pensadores religiosos do chamado 'século de prata', deixando um grande legado.Apresentação feita, podemos passar ao texto escolhido para compartilhar com os amigos do blog.
"A Civilização é, por natureza, "burguesa", no sentido mais profundo, espiritual da palavra. O espírito "burguês" é o reino civilizado deste mundo, uma vontade civilizadora da punjança organizada e do gozo da vida. O espírito da civilização é pequeno-burguês, ele se introduz, prende-se às coisas perecíveis e transitórias; ele não aprecia a eternidade. O espírito "burguês" é a escravidão em relação à podridão, é o ódio às coisas terrenas.As civilizações da Europa e da América (1), as mais perfeitas civilizações do mundo,construíram o sistema industrial capitalista. Tal sistema não foi apenas um poderoso desenvolvimento econômico,  como também um fenômeno espiritual, um fenômeno de aniquilamento do espírito. O capitalismo industrial da civilização foi o exterminador do espírito da eternidade, o exterminador das coisas sagradas. A civilização capitalista dos tempos mais recentes assassinou Deus, sendo a mais impudente das civilizações. A responsabilidade pelo crime de deicídio é dela, não do socialismo revolucionário, que somente assimilou o espírito da civilização burguesa e adotou a sua herança negativa. É bem verdade, a civilização industrial capitalista não rejeitou de todo a religião: ela estava disposta a reconhecer a sua utilidade pragmática e a necessidade da religião. Na cultura, a religião era simbólica; na civilização, ela se tornou pragmática. E a religião pode revelar-se útil e eficiente para a organização da vida, para o aumento do seu poder. De maneira geral, a civilização é pragmática. Não por acaso, o pragmatismo é tão popular na América, que é por excelência o país da civilização. O socialismo repudiou esse pragmatismo da religião; ele defende pragmaticamente o seu ateísmo como a coisa mais útil para o desenvolvimento da punjança da vida e para o gozo desta pelas grandes massas da Humanidade.No mundo capitalista, porém, a atitude pragmático-utilitária com a religião foi já uma verdadeira fonte de descrença e esvaziamento espiritual. O Deus, útil e ativamente necessário para os avanços da civilização, para o desenvolvimento industrial capitalista, não pode ser o Deus verdadeiro. Pode ser facilmente desmascarado. O socialismo está certo, embora haja chegado a ser detentor da razão por uma via negativa. O Deus das revelações religiosas, o Deus da cultura simbólica, já há muito partiu da civilização capitalista, e ela também o abandonou. A civilização industrial capitalista foi-se para muito longe de tudo o que era ontológico; ela é anti-ontológica, mecânica e considera apenas o reino da ficção. A  mecanicidade, a tecnicidade e a maquinicidade desta civilização é contrária à organicidade, à cosmicidade e à espiritualidade de qualquer existência.Não é a economia que é mecânica e fictícia; ela possui bases verdadeiramente na existência, divinas, e o homem tem o dever da gestão econômica, o imperativo do desenvolvimento econômico. Mas a separação entre a economia e o espírito, a elevação da economia a princípio supremo da vida, a atribuição de um caráter técnico a toda a existência, em lugar de orgânico, transformam a economia num reino da ficção mecânico. A luxúria que está na base da civilização capitalista constrói um mundo mecanicamente fictício.O sistema industrial capitalista de civilização destrói as bases espirituais da economia e, com isso, cava o seu próprio túmulo. O trabalho deixa de ter um sentido espiritual consciente e espiritual justificado espiritualmente e levanta-se contra todo o sistema. A civilização capitalista encontra o seu merecido castigo no socialismo. Este, porém, da mesma forma, dá continuidade à obra da civilização; ele é a outra face daquela mesma civilização "burguesa"; tenta levar adiante o desenvolvimento da civilização, sem introduzir um novo espírito nela. O industrialismo da civilização, a qual gera ficções e fantasmas, solapa, inevitavelmente, a disciplina e a motivação espirituais do trabalho e, com isso, condena-se ao malogro"

Notas:
(1) O autor se refere, aqui, aos Estados Unidos da América

Fontes:
Tipologia do simbolismo nas culturas russa e ocidental(Associação Editorial Humanitas)
http://clubs.ya.ru/
http://www.stavropolye.tv/
www.wikipedia.com

Um comentário:

Fil. disse...

Não tinha conhecimento desse pensador.
Achei muito louvável o texto, um tema que vem me perseguindo nesses tempos ultimos.

poste mais, por favor.

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