domingo, 30 de outubro de 2011

NIKOLAI BERDIÁEV - PEQUENO TRECHO PARTE 2


Continuando o post anteriior (Parte 1)
"A civilização é incapaz de realizar o seu sonho de uma força mundial de crescimento infinito. Não se terminará de construir a Torre de Babel. Vemos, na Guerra Mundial, a já decadência da civilização européia, a ruína do sistema industrial, o desmascaramento das ficções de que vivia o "mundo burguês". Tal é a trágica dialética do destino histórico. Dialética igual a cultura, bem como a civilização. Nada pode ser compreendido estatisticamente, tudo deve ser compreendido dinamicamente.


E somente então descobre-se como tudo, no declínio histórico, tende a transformar-se no seu oposto, como tudo está cheio de contradições interiores e carrega em si a semente da sua morte. O imperialismo é um fruto técnico da civilização. O imperialismo não é cultura. Ele é a vontade nua de poder mundial, de organização mundial da vida. Ele está ligado ao sistema industrial capitalista e é técnico por natureza. Tal é o imperialismo burguês dos séculos XIX e XX, os imperialismos inglês e alemão.  Mas é preciso diferencia-lo do imperialismo sagrado dos tempos idos, do sagrado Império Romano, do sagrado Império Bizantino, que são simbólicos e pertencem à cultura e não à civilização.  No imperialismo é visível a invencíveis dialética do destino histórico. Na vontade imperialista do poder mundial, apodrecem e transformam-se em pó  os corpos históricos dos Estados nacionais pertencentes à época da cultura. O  império britânico é o fim da Inglaterra como estado Nacional. Mas na voraz vontade imperialista está a semente de sua morte. O imperialismo, no seu desenvolvimento desenfreado, mina as suas bases e prepara a sua transição para o socialismo, que está igualmente possuído pelo desejo de poderio mundial e organização mundial da vida e significa apenas o degrau subentende da civilização, o fenômeno do surgimento de uma nova imagem desta. Mas tanto o imperialismo como o socialismo, tão aparentados em espírito, significam uma profunda crise da cultura. Na época industrial capitalista do imperialismo auto-destruidor e do recém - surgido socialismo, triunfa a civilização, porém a cultura caminha para o ocaso.Isso não significa que a cultura esteja a morrer. Num sentido mais profundo, a cultura é eterna. A cultura antiga decaiu e como que morreu. Mas ela continua a viver em nós como um sedimento profundo de nosso ser. Na época da civilização, a cultura continua a viver nas qualidades, e não nas quantidades; ela se dirige  ara as profundezas. Na civilização, começam a manifestar-se processos de barbarização, insensibilização e perda das formas perfeitas produzidas pela cultura.Após a cultura helênica, após a universal civilização romana, teve início a época do bárbaro começo da Idade Média. Tratava-se de uma barbárie relacionada com os elementos da natureza, uma barbárie provocada pela influência de novas massas humanas com sangue fresco, que traziam consigo o cheiro das matas setentrionais. Não é essa a barbárie que pode advir no ápice da civilização européia e mundial. Será a barbárie da própria civilização, uma barbárie com o cheiro de máquinas, e não de matas, uma barbárie que está encerrada na própria técnica da civilização. Tal é a dialética da própria civilização. Nela, exaure-se a energia espiritual,  extingue-se o espírito, fonte da cultura. Então, começam a dominar as almas humanas não as forças naturais, forças bárbaras no sentido nobre desta palavra, mas, sim, do reino mágico da maquinicidade e da mecanicidade, que substitui a verdadeira existência. A civilização nasceu da vontade humana de "uma vida real", de um poderio real, de uma felicidade real, em oposição ao caráter simbólico e contemplativo da cultura. Tal é um dos caminhos que levam da cultura à "vida", à transformação da vida, o caminho da transformação técnica da vida. O homem teve de seguir essas veredas e desvendar copletamente todas as forças técnicas. Mas por tal via não se chega à existência genuína: nela perece a imagem do homem.

texto extraído do livro "Tipologia do Simbolismo nas Culturas Russa e Ocidental"

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