quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Chostakovitch e a Sinfonia N.2: "Sinfonia de Outubro"


Chostavkóvitch viveu em uma época na qual a música do ocidente vinha passando por transformações. Estava saindo da era romântica e extremamente subjetiva e entrando em um novo período, de reação contra este subjetivismo. Este período coincidiu, na Rússia, com os primeiros anos da Revolução de Outubro e com a tentativa pioneira  de colocar a ideologia marxista em prática.Dentro de tal contexto, a música deveria representar uma parte importante no estabelecimento de um novo padrão de vida. Os compositores passaram a priorizar as questões sociais e morais, colocando-as acima da estética. Na opinião de Euro de Barros couto Junior, (1)

"a música passou a ser considerada mais como um instrumento de propaganda e menos como expressão da visão pessoal do artista".(2)
Por algum tempo admitiu-se tendências progressistas na música, até porque é muito difícil (acredito impossível) se definir o conteúdo político de uma sinfonia ou de musicas instrumentais em geral. Por isso eram admitidas, na década de 20, inclusive as músicas dos exilados, como Stravinski, por exemplo, que eram admirados e interpretados amplamente no país.
Foi nesta fase de transição que surgiram a Segunda e a Terceira Sinfonia de Chostakovitch, trazendo a coexistência de técnicas orquestrais progressistas com simples corais com textos litúrgicos ou revolucionários. Em ambas as obras, o autor abandonou os conceitos tradicionais tanto de sinfonia, quanto do desenvolvimento temático. Cada uma contém um curto final destinado ao canto de grandiosos corais.

A Segunda Sinfonia foi intitulada de "sinfonia" pois à página de rosto Chostakovitch inscreveu 
"D.Chostavkovitch, Opus 14, A Outubro, uma Dedicatória Sinfônica, com um Coral Final, escrito sobre as palavras de Aleksandr Bezymiénski, para Grande Orquestra e Coro Misto". 
Em outro canto da mesma página se lê:
"Proletários de Todo o Mundo, Uni-vos!"
Esta sinfonia foi escrita para o décimo aniversário da Revolução. O poema de Bezumiénski fala sobre a opressão e o sofrimento das massas antes que se rebelassem em 1917 e saúda Lenin e Outubro por colocarem um fim neste sofrimento.
A parte instrumental, formada pelo violino, clarineta e fagote,  a certa altura dá uma rajada de apito de fábrica(alternativamente substituído por instrumentos de metais, anuncia a introdução do coral.
A seguir a sinfonia e, após, a letra de Bezumiénski.


O Poema - Bezumiénski

Nós íamos e pedíamos trabalho e pão,
os corações  estavam apertados por morsas de saudade,
as chaminés das fábricas estendiam-se ao céu,
e mãos enfraquecidas cerravam os punhos. 
Terrível era o nome de nossas sombras:
o silêncio, o sofrimento.
Porém, ruidosamente armas irrompiam silenciosas
palavras de nossas aflições.
Ó Lienin(*):
Tu forjaste a liberdade desse sofrimento,
tu forjaste d liberdade dessas mãos calosas.
Nós entendemos, Lienin, que nossa união leva um nome:
luta! luta!
Luta! Tu nos conduziste à plena liberdade.
Luta! Tu nos deste a vitória do trabalho.
E esta vitória sobre a opressão.
e sobre as trevas não será tirada de nós, nunca.
Que cada um na luta seja jovem e corajoso.
Que o nome da vitória seja Outubro.
Outubro! É o sol domensageiro da esperança.
Outubro! É a liberdade de épocas de insurreição.
Outubro! É o labor, é a felicidade e a canção.
Outubro! São os alegres prados e ferramentas.
Eis o sinal de outubro.
Eis o nome das vívidas gerações e Lienin.
A Comuna e Lienín.
fonte: Caderno de Literatura e Cultura Russa, vol.1

 Notas:
(*) Lienín: pronúncia correta do nome de Lenin.
(1) Caderno de Literatura e Cultura Russa, vol.1
(2) Em seu livro "Literatura e Revolução", Trotski enfatiza posição contrária, alegando que era contra qualquer imposição de cima para baixo na criação artística, deixando aberto o espaço para a o gênio criativo, tanto na literatura, quanto nas artes em geral. Era a época de seu embate contra o Prolekult, que queria uma cultura proletária já no início do poder soviético. Uma de suas divergências com Stalin foi exatamente a este respeito; o uso da arte com fins puramente propagandísticos foi técnica adotada amplamente após a morte de Lênin.

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