quarta-feira, 7 de setembro de 2011

UM POEMA DE OSSIP MANDELSTAM

Mandelstam é um dos poetas fundamentais para quem quiser melhor conhecer a cultura russa do século XX. Recomendo, ao leitor brasileiro, a auisição do livro "Guarda minha fala para sempre", editado pela portuguesa "Assírio & Alvim", com tradução de Nina e Filipe Guerra. Foi deste livro que extraí a presente poesia, datada de fevereiro de 1937. Histórica, pungente. Viva. Vale a pena ser postada e, sobretudo, ser lida...

Se for preso pelos nossos inimigos,
Se as pessoas não falarem comigo, Se de tudo e de todos for privado;
Do direito a respirar e abrir portas,
Do direito a afirmar que haverá vida
E que, como juiz, o povo julga -
Se me tratarem como animal,
Se me atirarem o comer pro chão -,
A dor não amordaço, não me calo,
Mas o que for de desenhar, desenho,
E ao abalar o sino nú dos muros,
Ao despertar o canto escuro inimigo,
Vou atrelar dez bois à minha voz
E no escuro o arado enterro e guio -
E nas profundas da noite, noite alerta,
Olhos se acendem para a terra fértil,
E, pois, na hoste de fraternos olhos apertado,
Co peso de toda a colheita eu cairei,
De impetuoso juramento é a seara -
E romperá de anos ardentes uma alcateia,
Como tempestade madura vai Lenin
Murmurar. Não haverá putrefacção na terra,
Assassinará razão e vida o Stalin.

Em russo:
Если б меня наши враги взяли
И перестали со мной говорить люди;
Если б меня лишили всего в мире:
Права дышать и открывать двери
И утверждать, что бытие будет
И что народ, как судия, судит, —
Если б меня смели держать зверем,
Пищу мою на пол кидать стали б, —
Я не смолчу, не заглушу боли,
Но начерчу то, что чертить волен,
И, раскачав колокол стен голый
И разбудив вражеской тьмы угол,
Я запрягу десять волов в голос
И поведу руку во тьме плугом —
И в глубине сторожевой ночи
Чернорабочей вспыхнут земли очи,
И в легион братских очей сжатый
Я упаду тяжестью всей жатвы,
Сжатостью всей рвущейся вдаль клятвы —
И промелькнет пламенных лет стая,
Прошелестит спелой грозой: Ленин,
Но на земле, что избежит тленья,
Будет губить разум и жизнь Сталин.

Um comentário:

Adriana Balreira disse...

Já tinha ouvido falar mas não conhecia nenhuma poesia sua. Amei essa. Bem pugente!
Beijos
Adriana

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