quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A REVOLTA DE KRONSHTADT NOS CAMINHOS DA HISTÓRIA

Lá pelos idos de 1921 a nascente economia soviética apresentava fracassos, cujas causas não podiam ser atribuidas unicamente a erros dos bolcheviques. Deve ser lembrado que o país viveu uma guerra civil, agravada pelo bloqueio decretado pelos países estrangeiros (aqueles de sempre...), além de possuir uma economia já caótica de antes de outubro de 17. Terminada a Guerra, o regime já consolidado, o balanço era de fome e miséria, as requisições não eram suficientes, as liberdades haviam sido drasticamente limitadas, mas o povo continuava fiel à sua revolução. Os descontentamentos, as revoltas e insurreições eram contra o Governo e não contra o Regime. Os bolcheviques eram acusados de prepotência e desvios, mas não se cogitava de outro sistema que não o socialista.

No campo, os agricultores não cessavam de se rebelar contra as requisições: apenas em 1921 contaram-se 10 grandes sublevações camponesas na Sibéria, em Saratov e, sobretudo, em Tambov, onde 200 homens encarregados do armazenamento das requisições foram massacrados.

Mas pior do que a miséria, no entanto, eram os sintomas do aparecimento de uma nova elite: a elite dos burocratas e dirigentes, que se apresentavam bem nutridos e bem vestidos:
"confrontando-nos com eles, provamos um verdadeiro e próprio ódio de classe", disse um operário ao "Pravda".
Além disto, havia as restrições à democracia que fez Zinoviev declarar:
"Se é verdade que nós abolimos os mais elementares direitos democráticos de operários e camponeses, é chegado o momento de por fim a tal estado de coisas. Uma nova era deve ter início".
Tal declaração foi endossada por Trotsky, que já há muito havia se declarado um anti-burocrata, por prever que o processo de substituir o poder de classe pelo poder de partido acabaria levando à ditadura do Comitê Central, podendo descambar isto tudo numa tirania pessoal.

Ao apoiar as declarações de Zinoviev, Trotsky começava a despir a farda autoritária do comissário da Guerra, para retomar a luta democrática. No entanto, antes que isto ocorresse, surgiu um fato novo: a revolta de Kronshtadt, cidade portuária localizada no Golfo da Finlândia, a 30 km de São Petersburgo.
Cansados de esperar por deliberações do Comitê Central, os operários e marinheiros, pontas de lanças nas lutas de 1917, pegavam novamente em armas em 1921, para "caçar os usurpadores e colocar fim à ditadura dos comissários".
Após advertir os amotinados, tanto Trotsky como Zinoviev se dedicaram a uma duríssima atividade de repressão.A rebelião logo sufocada acabou tendo conseqüências contrárias às teses que Trotsky defendia, comprometendo tanto a ele quanto a Zinoviev, reduzindo-lhes as condições de defesa da redemocratização e assustando o partido, cujos membros mais conservadores passaram pensar em restringir, senão eliminar, até mesmo o debate interno.

Quanto a Lenin, deu precedência à questão econômica. Através da NEPE (Nova Política Econômica), fez retornar os estímulos pecuniários à produção rural. Dentro das teses socialistas - era um passo atrás. Mas o que importava, era acalmar os camponeses e prover o abastecimento das cidades. Nesse sentido, o sucesso foi extraordinário e, em pouco tempo, a economia entrou em um clima de prosperidade com as promessas da revoluão parecendo a um passo de se concretizarem.

Então, em 1924 Lenin morreu. Sem sua autoridade, o partido optou por seguir o fácil caminho da burocratização completa, escolhendo para a direção o aparentemente descolorido Stalin. Cumpria-se, assim, a previsão de Trotsky. As dissidências no seio do partido foram proibidas. Zinoviev, Kamenev, Radek e mutos outros acabaram sendo assassinados. Stalin cumpriu a profecia de Trotsky quanto à tirania pessoal, instalando sua própria ditadura. O próprio Trotsky foi seu mais ardoroso oponente, primeiro no partido, depois expulso do partido, depois banido da Rússia: só silenciou em 1940, quando foi assassinado. Sua profecia se realizou: a grande revolução do proletariado caminhara por meandros estranhos, até desembocar no totalitarismo burocrático, numa terrível ditadura pessoal, que não pode jamais ser confundida com o comunismo nem com o socialismo. Esta ditadura foi o que surgiu com o nome de stalinismo,
Como o próprio Trotsky bradou até morrer,
"uma revolução fora feita, surgira uma economia socialista, extinguira-se uma burguesia. Nos caminhos da história, um novo grande passo fora dado".
Mais fotos dos revoltosos de 1921:



Agora, a revolta em vídeos:

Agora, um pouco sobre Kronshtadt, que foi fundada por Pedro, o Grande, na ilha de Kotlin, em 1703. Sua construção foi supervisionada pelo bisavô de Pushkin, Abram Petrovich Gannibal(*)

Kronshtadt, com seus fortes, foram a chave da proteção de Petrogrado durante a Guerra Civil.

-Canal:




























Forte:















Portões do Parque Petrovsky:















Catedral Naval de São Nikolai(patrono da Marinha)














Deixo vocês com um vídeo do local:


Notas da Milu:

(*) Sobre este bisavô, ler "O Negro de Pedro, o Grande, de Pushkin.



fonte: "História das Revoluções"
Ed.Três, 1974
http://www.kronshtadt.info/

Um comentário:

Adriana Balreira disse...

Vc é Russa? Adorei o seu blog. Estou te seguindo tanto por aqui quanto pelo seu twitter. Muito legal esse blog. Amei. Sou fã da literatura Russa e adoro também a história russa.
Beijos
Adriana

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