segunda-feira, 22 de agosto de 2011

HISTÓRIA RUSSA NA POESIA DE ANNA AKHMATOVA


Quando Anna Akhmatova ainda não podia publicar seu Réquiem anti-stalinista, devido à severa censura soviética, ela conseguiu fazer passar para divulgação um ciclo de poesias dedicadas à sua cidade natal,São Pertesburgo, a então Leningrado, encharcada de sangue, cidade que ela foi uma das que mais amou. Foi um momento histórico para todo o país, que tomou conhecimento de seus versos trágicos, um verdadeiro "ofício dos mortos", consagrados às vítimas do Grande Terror e aos mátires dos Novecentos Dias. Aí vai um dos versos deste importante ciclo:
" Eh, amigos do último destacamento!
Pouparam-me a vida para vos prantear.
Não para ficar como um salgueiro chorão,
Mudo, dando sombra a sua memória,
Mas para gritar seus nomes
E levá-los ao conhecimento do mundo!
Vocês estarão sempre ao nosso lado!
Todos de joelhos! - jorra a luz carmesim,
E os de Leningrado passaram, novamente,
Através da melancólica escuridão,
Os que têm nome e os anônimos,
Os vivos e os mortos: a glória não tem mortos.

____________________________________________
Notas da Milu
Apenas para informação do leitor menos afeito à história russa, vamos à algumas informações necessárias. Os que já conhecerem tais fatos, por favor, desconsiderem os parágrafos a seguir...
Começando pelo "Grande Terror": também conhecido por "grande expurgo"ou, traduzindo-se literalmente do russo -"grande limpeza", que foi uma ação penal movida por Stalin contra todos os seus opositores, fossem opositores reais ou meramente frutos de sua imaginação. Com isto, foram dizimados quadros do partido comunista ao qual ele pertencia, oficiais do Exército Vermelho, além de um sem número de intelectuais e gente do povo, todos "julgados" "inimigos do povo". Foi nesta leva de "limpeza" que foram eliminados Zinoviev, Kamenev, Bukharin, muitos heróis da Batalha do Volga, só para citar alguns pouquíssimos nomes públicos. Há de ser lembrado que foi neste período, também, que a esposa de Lenin, Nadezhda Krupskaya, foi colocada em cativeiro desconhecido.
A este respeito já postamos, aqui, o livro "Os Comissários Desaparecidos", que sugiro que seja baixado aos que ainda não o conhecem.

Anna Akhmatova sofreu de perto durante este período, tendo um destino trágico. Apesar de ela própria nunca ter estado presa ou ter sido exilada, a repressão atingiu duramente três pessoas muito importantes em sua vida: seu ex-marido e pai de seu filho, o poeta Nikolai Stepanovitch Sumilyov, fuzilado em 1921. O escritor e estudioso de arte Nikolai Nikolaevitch Punin, com quem teve uma união de 15 anos e uma filha, Irina, também foi atingido: ele foi preso por três vezes e morreu num acampamento de prisioneiros em 1953. Finalmente, o filho de Anna do primeiro casamento, Lev Nikolaevitch Sumilyov, historiador soviético, esteve preso por mais de 10 anos, entre as décadas de 30 e 50.

Agora, um pouco sobre "Os Novecentos Dias":número de dias em que os cidadãos de Leningrado ficaram submetidos a um terrível cerco efetuado pelas tropas nazistas de Hitler, quando morreu mais de um milhão de civis e militares, de frio, escarlatina, tifo e outras doenças.

Nenhum comentário:

GOSTOU DO BLOG? LINK ME

www.russiashow.blogspot.coms