Primeira resposta, correta - aliás, que virá à mente de muitos é que Boris Godunov é uma tragédia de PuShkin, que trata do confronto entre o tsar homônimo e um impostor. Mas Boris Godunov foi, realmente, um tsar, que reinou na Rússia de 1.598 a 1605.
Com a morte de Ivan IV, mais conhecido como Ivan, o Terrível, em 1584, sobe ao trono seu segundo filho Fiódor(1), o último da dinastia Riurikovitch(*): não teve filhos, portanto, não deixou descendentes diretos.
Fiódor foi um monarca piedoso, mas de personalidade fraca.Seu cunhado e primeiro-ministro Boris Godunov, nascido em 1552 e falecido em 13 de abril de 1605, em moscou, era um homem de enorme sagacidade e os poucos triunfos obtidos no reinado de Fiódor foram a Godunov atribuídos.
Reza a lenda do século XVIII, que Boris Godunov seria de decendência semi-tártara, descendente de um príncipe chamado Tcheta, que chegou à então "Rus" na época de Ivan Kalita, ou Ivan - o Avarento, por volta de 1325, o que não está de acordo com a genealogia do sobrano, pela qual os Godunov descendem de um grão-duque moscovita.
O pai de Boris - Fiódor Ivanovitch Godunov, de alcunha "o torto", era um proprietário de terras mediano e não pertencia a nobreza.Mas, voltandoa Fiódor, ele morreu em 1598 e o fato de não deixar descendentes causou uma sucessão de crises sem precedentes no país. Não havia outro filho de Ivan IV para suceder Fiódor, pois seu irmão Dmitri havia morrido aos nove anos de idade, em 1591, na cidade de Uglich, às margens do rio Volga(ver foto abaixo).Nunca as condições da morte de Dmitri foram esclarecidas.
Surgiram rumores de que Boris, com ambição de ocupar o trono, teria mandado matar Dmitri. Rumores totalmente improváveis, pois Boris não poderia jamais adivinhar que seu cunhado morreria sem ter filhos. Entretanto, tais boatos tiveram conseqüências desastrosas para a Rússia e tudo que ocorreu, daí por diante, deve ser reputado a estes boatos.
Boris Godunov era esperto, inteligente e cauteloso - ambicioso, também. Foi subindo na hierarquia social aos poucos.Em 1570, casa sua irmã Irene com Fiódor; ele próprio se casa com Mária Skuratova -Belskaya, filha de Grigoriy Lukyanovitch Skuratov Belskiy, mais conhecido pela alcunha de Malyuta Skuratov, um dos mais perversos líderes da Oprichina(4), começando, com isto, sua subida ao poder. Se torna um "boyarin" ou nobre em setembro de 1580. No último ano de vida de Ivan, Boris -que antes não era próximo do monarca, graças ao seu sogro, se tornou uma das pessoas mais influentes junto a ele, sendo, também, suspeit de mata-lo, em 1584.
Boris foi eleito para o trono vago, para desgosto das famílias dos boiardos(2), que armaram uma conspiração, com o apoio do metropolita(3) de Moscou, Dionísio II. O monarca venceu a conspiração, banindo os rebeldes do reino, enviando-os a Mosteiros.No geral, foi um monarca pacífico, que conseguiu recuperar algumas cidades perdidas para a Suécia no reinado anterior. Apesar de pacífico, apoiou uma facção anti-turca na Criméia, apoiando uma guerra contra o Sultão.
Seu reinado foi palco de uma série de desastres, especialmente destruição de colheitas e muita fome. Embora ele tenha tentado adotar medidas para atenuar as desgraças, como por exemplo, o envio de grupos de estudantes para a Europa Ocidental e o renascimento da construção civil, não conseguiu o apoio popular.
Conforme Pushkin narra em seu poema, aconteceu, de fato, o surgimento de um pretendente que se dizia ser Dmitri surgido miraculosamente da Polônia rumo a Moscou, acompanhado por um exército formado, maciçamente, por poloneses, exército este que só ia crescendo, à medida que avançava. Boris morre subitamente, seu filho Fiódor é linchado e o falso Dmitri é aclamado o novo tsar, mas isto já é outra história.
Os acontecimentos deste período, o amigo do blog poderá ler em Pushkin, obra editada pela Ed.Globo, coleção Clássicos Globo, com tradução direta do russo. Godunov é, também, tema da ópera de Musorgsky.
Finalizo o post com a contracapa do livro de Pushkin:
"Traduzido diretamente do russo, Boris Godunov é um drama histórico no qual Púchkin transforma em tragédia o episódio do confronto entre o homônimo tsar e um impostor que reivindica seu direito ao trono. Escrita em versos por um poeta que é o epicentro da literatura russa, a peça foi concebida, nas palavras do próprio autor, para "plasmar em formas dramáticas uma das épocas mais dramáticas da história moderna".
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Notas da Milu:
(1)Comumente traduzido para Teodoro, o que não concordo, já que não julgo correto traduzir nomes próprios.
(2)Palavra oriunda de "boyarin",que significa nobre, em russo. Boiardo era o título que se dava aos representantes da nobreza russa, entre os séculos X ao XVII.
(3)Dentro da hierarquia ortodoxa, é um intermediário entre o Patriarca (chefe supremo da Igreja Ortodoxa) e os arcebispos.
(4)Polícia política da época de Ivan, o terrível.
(*) Ver neste blog a respeito(http://russiashow.blogspot.com/search?q=Riurikovitch)
Bibliografia:
Grandes impérios e civilizações - Rússia, vol.1-Ed.Del Prado
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