sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O último homemda vida de Anna Akhmátova



"Quando Anna Andrêievna estava com 56 anos, surgiu fugazmente aquele que seria seu último amor - um homem com quem ela sentiu, as poucas vezes que o viu, uma enorme afinidade e a certeza de que poderiam ter sido felizes ao lado um do outro, se as circunstâncias fossem diferentes."
Este homem era Isaiah Berlin, intelectual de origem russa naturalizado inglês. Na época em que se conheceram, Berlin estava no Foreign Office , como membro da Embaixada inglesa na URSS, com a missão de estudar as relações da URSS com a Inglaterra e os Estados Unidos. Apesar de estar sendo perseguido na Rússia, ele continuou no país, retomando contatos com membros de sua família (que depois pagaram por isto) e com intelectuais russos, entre eles Boris Pasternak (em Moscou). Partindo para a então Leningrado (hoje São Petersburgo), Berlin entra em contato com o crítico Vladímir Orlóv, que o coloca em contato com Akhmátova. A este respeito, Berlin disse:
"Akhmátova, para mim, era uma figura de uma passado remoto. Maurice Bowra, que traduzira alguns de seus poemas, falava dela como de uma pessoa de quem não se ouvia falar desde a I Guerra Mundial".

Tanto era assim, que Berlin se espantou ao saber que a poeta ainda estava viva. E Orlóv o levou até o cais do Fontanka (2), onde vivia Akhmátova (e hoje é o museu da poeta, ver vídeo a baixo).

"Cruzamos a ponte Ánitchkov, viramos a esquerda e fomos pelo cais até o palácio dos Sheriemiétiev, numa magnífica construção do fim do Barroco (1), com aqueles refinados portões de ferro batido que fazem a fama de Leningrado.Subimos uma íngreme escada escura até o quarto de Akhmátova e uma imponente senhora de cabelos grisalhos, com um xale branco em volta dos ombros, ergueu-se lentamente para nos receber. Anna Akhmátova era imensamente digna, tinha gestos calmos, uma cabeça nobre, traços bonitos, mas um tanto severos, e uma expressão de extrema tristeza."
E Berlin vai descrevendo este primeiro encontro nos mínimos detalhes: suas impressões, a respeito do que falaram, dos poemas que ela leu paa ele. Repassa o sentimento de alguém que foi profundamente tocado por uma pessoa que só viu duas vezes na sua vida. Ela o impressionou profundamente. E ele a perturbou demais. Mas restava a ela pouco tempo de vida e ela sabia disto. Detestava que sentissem pena dela.

Se viram pela última vez em 3 de janeiro de 1946, quando Berlin passou pela cidade rumo a Helsinque e ganhou de Anna um exemplar de "Revoada Branca", com a seguinte dedicatória:

"Para I.B., a quem eu nada disse sobre Cleópatra"
Deu-lhe, ainda, um volume dos poemas publicados em Tashkent e Isaiah lhe deu a edição inglesa de O Castelo, de F.Kafka.

Não havia futuro para o relacionamento dos dois. "O que posso deixar atrás, para que te lembres de mim?", pergunta ela em um de seus poemas. Contra eles pesava, mais do que a tuberculose dla, a mão pesada de Stalin, para quem Isaiah era um espião.

A seguir, um vídeo com a música "Leningrado, eu ainda não quero morrer".


FOTOS CITADAS:
1.Sheriemiétiev















2.Fontanka:










Para fazer uma "visitinha"virtual no Museu de Anna Akhmatova, vá no link a seguir(copie e cole na barra de seu navegador::vale a pena conhecer. Coloquei a versão em inglês.

http://www.saint-petersburg.com/museums/anna-akhmatova-museum-at-the-fountain-house/

Abaixo, o site em russo, para os estudiosos ou falantes do idioma_

http://akhmatova.spb.ru/

Fonte: post baseado no livro "Anna, a voz da Rússia - vida e obra de Anna Akhmátova", de Lauro Machado Coelho, editado pela Ed.Algol.

Nenhum comentário:

GOSTOU DO BLOG? LINK ME

www.russiashow.blogspot.coms