sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TRECHOS DOS "DIÁRIOS ÍNTIMOS", DE LIEV TOLSTOI E SOFIA TOSLTAYA (1910)

Não consigo entender porque editoras especializadas nas obras de autores russos, como é o caso da Cosac Naify, não reeditam livros raros, não encontrados em língua portuguesa, a não ser em agluns sebos , como é o caso dos Diários Íntimos de Lev Tolstoi e Sofia Tolstaya, sua esposa. Este livro é da maior importância para a compreensão da vida do grande autor russo e para o melhor conhecimento de sua obra. Trata-se do diário escrito pelo casal Tolstoi em 1910, ano da morte do autor.

Minha edição consegue ser mais antiga do que eu: data de 1943, lançada pela Ed.Vecchi Ltda. A tradução de Frederico Reys Coutinho deve ter sido feita a partir da edição francesa, já que traduziram o nome do escritor para "Leão" e não Lev:a edição não cita o título original.

Não escaneei a capa do livro, uma vez que ele foi reencadernado e, durante o processo, perdeu sua capa original. Tive que lê-lo com o máximo cuidado, pois mesmo após a reencadernação, feita, está arriscado a se desfazer, o que é uma pena...

Para quem sabe o idioma russo, coloco, aqui, a versão nesta língua,;basta clicar no link ao lado: www.lib.ru. Se você não tiver nada contra sebos, poderá dar uma pesquisada no estado dos livros existentes em www.estantevirtual.com.br.

Extraí desta obra algumas das passagens que julguei interessantes , para que o amigo do blog tenha a chance de conhece-las.

O livro é separado em duas partes: da página 7 à 163, tem-se o "Diário Maior", de Lev Tolstoi.A partir desta página tem início os "Jornais Íntimos" de Sofia Andreevna e suas correspondências.

Tolstoi iniciou seu diário em 2 de janeiro de 1910 e o encerra 3 dias antes de seu falecimento em Astapovo, dia 20 de novembro, pelo nosso calendário.

Além do Grande Diário, ele escreveu um outro diário, mais íntimo, que ele não mostrava a ninguém, também constante do livro, intitulado "Só Para Mim". No primeiro diário, ele faz reflexões sobre tudo que o preocupava no final de sua vida e, no segundo, o relato de tudo que o fez deixar Yasnaia Poliana, com detalhes, bem como suas impressões a respeito de temas variados.

TOLSTOI:
2 de janeiro de 1910:..."Trouxeram-nos uma mulher em estado lamentável, doente depois do parto. Crianças. Fome. Como tudo isto é penoso!"

4 de janeiro de 1910: "...Refleti sobre minhas relações com os homens de nosso mundo que não têm fé: é um pouco como com os animais: ama-los, lamenta-los, mas não entrar em relação espiritual com eles. Relações assim despertam maus sentimentos. Eles não me compreendem. Pela sua incompreensão e arrogância, servindo-se da razão para esconder a verdade, eles contestam a verdade e o bem e nos levam aos maus sentimentos. Não sei como dizer, mas sinto perfeitamente que é preciso inventar um sentimento próprio em relação a estes homens, para não faltar com o amor que lhes é devido. ....À noite, li coisas insignificantes e joguei cartas."

5 de janeiro de 1910 - "...Cada vez me é mais penoso ver esses escravos trabalharem para a nossa família...Joguei wint. Tudo é triste e indigno".

7 de janeiro de 1910 (achei interessante esta passagem: na época de tolstoi já existiam os que comercializavam fé...*): Uma carta desagradável: meu missivista me diz que partilha minhas convicções e pede 500 rublos para a propagação do Cristianismo"...

16 de janeiro de 1910:Acordei alerta e disposto a ira a Tula, à audiência do tribunal....Primeiro, foi o julgamento de camponeses: advogados, juízes,soldados,testemunhas. Tudo isto é bem novo para mim. Depois julgaram um acusado político. Era acusado de sustentar e propagar idéias mais eqüitativas e sensatas que as idéias comuns sobre a organização da vida. Tenho muita pena dele. (**) Algumas pessoas se reuniram para me ver, mas não muitas, graças a Deus. Emocionei-me quando prestaram juramento. Lutei para me conter e não dizer que aquilo (o julgamento) era uma forma de zombar de Jesus Cristo. (***)

Quase todos os dias, Tolstoi reclamava de mau humor e anotava, fim do dia, "joguei". Em todos estes dias de janeiro, deixou clara sua preocupação em praticar o bem e sua frustração quando "falhava" com este seu propósito.

SOFIA

Os jornais íntimos de Sofia têm um prefácio feito pela filho do casal - Serguey Lvovitch Tolstoi. Conta coisas interessantes a respeito dos pais, de suas características, de seu relacionamento. Sobre a mãe, ele diz:
" Ela se levantava depois de L.N., às dez ou onze horas e deitava-se tarde......
...Raramente se passava um só dia sem a chegada de algum parente, convidado ou visitante.
... Minha mãe era sujeita a crises de histeria e, com os anos, foi perdendo, cada vez mais, o equilíbrio de suas faculdades mentais. Deve-se supor que isto contribuiu muito para o desentendimento do casal. A histeria agravou-se: primeiro, após a morte de seu jovem filho Vanka (1895), que ela adorava; segundo, em conseqüência da grave operação que fez em 1906 e terceiro, provavelmente, por causas patológicas, em 1910.
Pode-se ver, pelo seu diário, que seu estado mórbido tinha sensivelmente piorado na segunda metade de junho de 1910, quando a transtornou um fato aparentemente insignificante: L.Nikolaevitch adiara de dois dias sua partida de Metscherkoie, onde era hóspede de Tchetkov. A partir desta época, não decorreu um dia sem que ela não se queixasse, em suas conversações e em seus diários, de insônias, de dores nevrálgicas em diferentes partes do corpo, de lassidão, de nervosismo, etc. As menores coisas, e também as maiores, serviam de pretextos para suas crises nervosas.

...A que ponto a conduta de minha mãe envenenou a vida de meu pai, a partir de junho de 1910, até sua fuga de Iasnaia Poliana, pode-se ver em todos os escritos do período: diários de ambos meus progenitores, memórias e recordações..., etc.

Nos próximos dias, postaremos mais sobre as reminiscências de Serguey, bem como trechos dos jornais de Sofia, dando, também, continuidade ao diário Maior, de Tolstoi. A idéia é fazer mais ou menos como vimos fazendo com as cartas de Svetlana Alliluyeva, a filha de Stalin, que estamos publicando em capítulos. Claro que não pretendo postar os diários na sua totalidade: eu precisaria ser insana para tal empreitada; a proposta é postar algumas passagens que são, a meu ver, interessantes.
Serguey Tolstoi, filho do casal, responsável pelo
prefácio aos Jornais de Sofia Andreevna
. Foi músico.
Tolstoi e Sofia
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(*) Nota da Milu
(**) Estas elites só mudam de nome, mas suas técnicas continuam, básicamente as mesmas...
(***)Ainda hoje muitos zombam de Cristos, em uma sociedade laica, mas que ama se dizer Cristã...

2 comentários:

aveloh disse...

Seu blog é precioso.
Um abraço

Johann MAX disse...

meus caros, eu tenho esta edição de 1943, além de mim, só conheço você que tenha este raridade.
não encontro outras referencias ao Diários íntimos de tolstói em nenhum outro lugar. eu tenho a foto da capa original depois me passe seu e-mail que eu scaneio em alta resolução para você adicionar à sua publicação digital.

é importantíssimo divulgar esta obra, visto que os pensamentos,e a linha de raciocínio, as idéias originais para seus possíveis futuros romances estão contidas nesta edição. lembrando que ao final de cada período, tolstoi queimava seus diários, sobrando esta raridade por sua morte.

segue foto da capa: http://i58.tinypic.com/2ajtgkp.jpg
http://i61.tinypic.com/10f2ofc.jpg

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