quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CÂNTICO DE NATAL - IOSIF BRODSKI


Voga numa triteza inexplicável,
através dos tijolos destruídos,
um navio noturno inextringuível
egresso dos jardins de Alexandria,
qual lanterna noturna e solitária
que parece uma rosa amarelada
voando sobre a testa dos amantes,
que mal se encostam nela.

Voga numa tristeza inexplicável
um cortejo de bêbados alados.
Na capital da noite um testrangeiro
fotografa as muralhas melancólicas
e parte em seguida para Odinka
num táxi em que vão velhos doentes.
E os mortos estreitam num abraço
os quartos mobiliados.

Voga numa tristeza inexplicável
através da cidade um nadador.
Um mendigo de rosto arredondado
sonha sentado em um banco azul.
Um conquistador velho e apaixonado
vai passeando no cinza das ruas.
O trem noturno no qual recém-casado
vai na treva apressado.

Voga na bruma, pra la de Moscou,
um nadador a que o destino abate.
Um sotaque judeu passa na noite
por esta escadaria amarelada.
E na viagem do amor à dor,
nesta noite, véspera de Natal,
voga uma beleza que enlouquece,
que nem tento explicar.

Voga o vento frio nos meus olhos.
Tremem flocos de neve sobre os trens.
O vento gelado, o vento pródigo
as minhas palmas rubras endurece
e escorre das fogueiras mel noturno.
Eis transformada a noite de Natal
em um pudim de açúcar perfumado
que paira sobre nós.

O Ano Novo, no dorso de uma onda
azul, feita de ruídos da cidade,
voga numa tristeza inexplicável,
como se a vida já recomeçasse
numa festa de glória e de luz,
num dia de ventura e pão à farta,
como se a vida - ora vacilante -
fosse recomeçar.
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Iósif Bródski viveu de 1940 a 1996. É um dos escritores russos agraciados com o Prêmio Nobel de Literatura.

Agora, o poeta em um vídeo que será bem interessante à turma que fala ou estuda russo:

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