Hoje inicio o post pela qualidade da edição da Cosac Naify: simplesmente demais. Coisa de primeiríssima qualidade, me lembrando as edições russas que tanto aprecio.Capa dura, cinza e uma sobrecapa vermelha (foto acima), 251 páginas, com uma tradução, de altíssimo nível, pela prof. Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade, com direito a um apêndice constante de posf´cios assinados pelo prof. Boris Schnaiderman e por Otto Maria Carpeaux: o apêndice vale por um livro, de tão bom que é.
Este livro - O Exército de Cavalaria (Konármya - título original em russo, literalmente, "o exército montado a cavalo, ou, o exército de cavalaria; logo, a autora optou pelo título original, ), é composto por 36 contos de Isac Bábel, escritor nascido em Odessa,Ucrânia, à epoca de seu nascimento pertencente ao Império Russo.
Como muitos escritores de sua época, Bábel morreu novo, aos 46 anos, em Moscou. Viveu de 1894 a 1940. Apesar de ter sido um defensor convicto do marxismo-leninismo e membro do Exército Vermelho, foi executado durante o grande expurgo de Stalin, em decorrência de uma confissão obtida sob tortura na Lubyanka, de ter participado de uma organização trotkista.
Os contos reunidos neste livro são fortes, inquietantes, que leva o leitor a um passeio no tempo, através das convulsões sociais na Rússia da década de 20. O conto principal é o que dá o título ao livro, editado pela primeira vez no Brasil. Seu narrador, de acordo com o prof. Schnaiderman,
é um alter ego de Bábel: um judeu russo e míope, destacado para acompanhar os cossacos que o general Budiónni arregimentou para lutar pelos blocheviques durante a guerra russo-polonesa de 1920-21. No front, ele assiste com igual dose de entusiasmo e horror à "libertação" de aldeias polonesas, que os cossacos não deixam de pilhar cruelmente. De corte expressionista, a prosa de Bábel encarnava o ideal de uma literatura revolucionária, capaz de romper com o conforto da leitura e mobilizar todos os sentidos do leitor com o sol que rola no céu feito uma cabeça decepada, o cheiro penetrante de um pernil putrefato ou as entranhas de um soldado ferido a transbordar sobre os próprios joelhos".Acabei de ler o livro agorinha mesmo.
Confesso que me contaminei, durante quase toda a leitura, sentindo o que estava sendo passado pelo autor, quer fosse estranheza, angústia ou estupefação; ou seja, vivi as narrativas do princípio ao fim, algo que me acontece quando o autor é muito bom: foi assim com o fantástico Oblomov, foi assim com O Don Silencioso, com o Destino de Um Homem, com as obras de Dostoievski e, agora, com esta obra sensacional.
Além do conto título, o livro apresenta, ainda, os seguintes contos:
- A travessia do Zbrutch
- A igreja de Novograd
- Uma carta
- O chefe da remonta
- Pan Apolek
- O sol da Itália (leia um trecho aqui)
- Guedáli
- Meu primeiro ganso
- O rabino
- O caminho de Bródy
- Teoria da tatchanka
- A morte de Dolgoruchov
- O combrig da Segunda
- Sachka, o Cristo
- Biografia de Matviéi Rodionytch Pávlitchenko
- O cemitério de Kózin
- Pritchera
- História de um cavalo
- Kónkin
- Berestietchko
- O sal
- A noite
- Afonka Bida
- Na igreja de São Valentin
- O comandante de esquadrão Trúnov
- Os Ivans
- Continuação da história de um cavalo
- A viúva
- Zámostie
- Traição
- Tchésniki
- Depois da batalha
- A canção
- O filho do rabino
- Argamk
- O beijo
Deixo o leitor com algumas fotos do autor e de Odessa, aproveitando a deixa para uma "viagem virtual" por esta cidade linda.
capa da edição russa
Bábel
2 comentários:
Olá.
Belo trabalho, muito interessante.
Seu post foi publicado na Teia.
Até mais.
Agradeço a atenção da Teia.Abraços
Postar um comentário