domingo, 29 de agosto de 2010

SINOPSE DO DIA:NIMFODORA IVÁNOVNA - IVAN GONCHAROV


Recomendo este livro por ele ser bom demais, mas - infelizmente 9que eu saiba) - ele só existe aqui no Brasil em espanhol ou em russo. Incrível, né? Já está mais do que na hora de as nossas editoras lançarem uma versão em português da obra completa de Goncharov. Afinal, o público brasileiro, para ser motivado a ler, precisa de boas obras disponíveis no mercado. As editoras lançam aos montes obras de valor contestável: estou cheia de ver 'cartilhas" de como enriquecer em 7 lições e babozeiras do gênero. Mas obras valiosas, que incentivariam o leitor a criar este hábito tão gostoso da leitura, a gente não vê tanto assim e, quando vê, é a preço de ouro.

Eu comprei, através da livraria Cultura, a referida obra em espanhol e via magzine virtual Ozon, a obra em russo: a obra é tão rara, talvez por ter sido publicada pela primeira vez em maio de 1993, que nem na internet russa eu encontrei o e-book para disponibilizar aqui aos leitores de língua russa.

Este livro só foi publicado um século após a morte de Ivan Goncharov e, nas palavras do editor espanhol (Amaranto), trata-se de "um pequeno acontecimento literário": é a obra do início da carreira de seu autor: as demais três grandes novelas, são todas da fase madura do autor, entre as quais o fabuloso Oblomov, sobre o qual já publiquei um post há mais tempo, de uma profundidade emocionante.

Ninfodora é um conto curto, sem a decantada profundidade de Oblomov, mas bastante reflexiva. Trata-se de uma novela criminal, mas à moda russa: ao contrário dos romances policiais de Agatha Christie, esta novela de Goncharov não tem por objetivo a solução de um crime, a identificação do culpado ou coisa parecida. Seu objetivo é uma reflexão sobre o crime em si, fruto do mal inerente à alma humana.

O prefácio da Ed.Amaranto é muito interessante e mostra um pouco do universo russo: ao que parece, Ivan Goncharov escreveu esta novela para uma das reuniões literárias, tão em moda na Rússia em todas as épocas.

Numa passagem do prefácio, Chiara Spano (que prefaciou o livro) faz um relato super esclarecedor e que tem tudo a ver com a realidade russa que a gente conhece, tanto por amigos russos, como por meio da literatura:

"Ninfodora aparece pela primeira vez em uma revista manuscrita fruto das reuniões cultas e alegres que se celebram em casa dos Máikov, uma família ilustre de pintores, poetas e críticos que, omo outras, mantinham saraus literárias em sua casa em Petersburgo, na primeira metade do século 19. A tradição destes cenáculos terá diferentes tipos de manifestações e modalidades, e que se repetia no tempo, continuando durante a época soviética e depois dela. São muitos os exemplos que se poderiam citar, até chegar, finalmente, à habitação ocupada por Anna Akhmatova, em um antigo apartamento de Leningrado, transformado em alojamento coletivo onde, ainda nos anos 60, se reuniam tímidos e valorosos jovens de diferentes procedências, para escutar, na voz do autor, os novos poemas de JosefBrodski. O clima russo -a um longo inverno, gelado e escuro, que trás uma explosão primaveril de tíbio sol, segue um curto verão, cálido e rico em grãos e hortaliças, tem favorecido o hábito de reunir espíritos afins: desde os magníficos salões ou as propriedades campestres da aristocracia, aos apartamentos urbanos e as datchas burguesas, até as estreitas, sufocantes e cheias de humo cozinhas dos alojamentos coletivos soviéticos. Dependendo da estação do ano se preparam confeitos e conservas para o inverno, toca-se música, se prepara uma sauna, mas, sobretudo, se fala ao redor de uma mesa, com maior ou menor abundância, mas sempre preparada para os grandes temas da existência, da vida ou da morte, do amor, de política, de filosofia e de arte. se canta e se lê o que cada um está escrevendo. Não é um passatempo imune de perigos, tanto que depois de outubro de 1917, a participação em saraus literários conduziu ao cárcere vários apaixonados por literatura".
Agora, uma pequena sinopse desta novela:a história é sobre um marido ausente, um assassinato inexplicável e um pobre, mulher desesperada -Ninfodora Ivanovna, que retorna à vida graças ao amor de um homem que mora nas proximidades e que salva sua vida quando ela corre o risco de morrer junto com seu filho durante um incêndio dentro de sua casa.
Ainda que o objetivo do livro não seja a solução do crime, Até o final da novela é impossível adivinhar o culpado, quem é o assassinado, especialmente porque aqui os papéis estão invertidos ...

Uma observação final: se você quiser o livro, escreva para a livraria Cultura e eles importam o livro para você.

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